quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Nascimento de Arthur - Final

Cicília já estava sendo preparada na sala de parto. Anestesia, soro, lençol com buraco em cima da barriga. E eu na ante-sala sem saber o que fazer. Kalessa ia dando os toques: “abre a torneira, passa esse líquido aqui...”

“Esse negócio marrom? Não é para lavar? Cadê o sabão de côco? Meu braço está sujo! Era melhor ter trazido um Protex!”.

E ela, com toda a paciência do mundo: “PASSE!”

Depois de quase tomar um banho na “lavanderia”, entrei na sala. A primeira coisa que ouvi foi um delicado “não toque em nada! Você quer ver de frente ou atrás do pano?”

Lógico que pedi para não ver sangue. Imagina se desmaio no meio do processo? Segui me esgueirando entre a cama da cirurgia e os objetos que seriam utilizados pelos médicos.

“Sente aqui”.

E fiquei. Cicília já estava mais desperta e ficava me olhando. Sentei e esperei, enquanto terminavam os preparativos. Pensei logo no pano: “Cadê o negócio que vai ficar na minha frente? Eu ainda estou vendo a barriga dela”. Tudo era motivo para entrar em pânico.

Quando finalmente o pano veio, respirei aliviado. E começaram. “Sabe Fulano? E não está saindo com aquela menina? É verdade!... Ela também? Tô besta!”. Não sei como conseguem falar da vida dos outros no momento de uma cirurgia. “Já estou vendo aqui. Vamos tirar?”

A adrenalina neste momento estava lá em cima. Já não me importava mais com medo de sangue, de desmaiar nem nada. Queria ver meu filho. Olhava para Cicília e tentava ver por cima do pano. Fiquei de pé. Quando percebi, estava pulando por cima do pano para tentar ver alguma coisa. E vi.

A coisa mais linda e emocionante que tinha visto na minha vida. Um bebezinho branco, todo sujo e que dava o primeiro choro. Olhava para Cicília, tentando descrever o que sentia, mas só conseguia apontar para minha pele e para a máscara branca no meu rosto. E neste momento não precisamos de palavras.

O simples olhar nos dizia exatamente o que o outro estava sentindo. Uma emoção nova. Preenchimento de um vazio que nem sabia que existia. Como minha vida era sem sentido. Só então percebi. Pela primeira vez senti o verdadeiro amor. Simples. Completo.

Em meio a esse sentimento avassalador, só consegui olhar. E mentalmente agradeci: “Obrigado meu Deus!”

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