quinta-feira, 5 de julho de 2012

A expectativa


A vontade inicial de Cicília era ter parto normal. Pelo menos tentar. Eu sentia calafrios só de pensar nesta possibilidade e, embora não desencorajasse, torcia para a médica convencê-la do contrário. A bichinha não era conhecida por ter resistência a dores.

Uma vez, para tirar um dente, desmaiou várias vezes no consultório. Agora imagine para dar passagem a um menino. E a médica nos convenceu em duas consultas.

Na verdade, muitos médicos não têm qualquer interesse em fazer parto normal. Ponha-se no lugar dele: o telefone toca de madrugada, você corre para o hospital e passa de 8 a 12 horas com as mãos fazendo uma conchinha para segurar o menino que pode sair a qualquer momento. Também não queria.

Por outro lado, não dá para simplesmente dizer: só faço cesárea. E o trabalho de convencimento vem por etapas.

Ao fazer oito meses, as consultas passaram a ter um intervalo menor. Tudo precisava ser acompanhado mais de perto, pois a qualquer momento Arthur poderia nascer. Portanto, iniciava-se o processo de convencimento.

“Ele não vai descer não viu. Vai ter que ser cesárea. Quando, na primeira gravidez da mãe, o bebê não está encaixado aos oito meses, é porque não vai mais”. Cicília ainda insistia em tentar o parto normal. E eu com medo de vê-la desmaiar em cima da mesa de cirurgia.

Na consulta seguinte, veio a definição: “ele é muito grande para nascer normal. Tem que realmente ser cesárea”. Minha dúvida era: “se fosse antigamente, o que aconteceria?” E ela respondeu sem titubear:

“Morreria a mãe ou o filho ou os dois”. Intimamente agradeci a quem inventou a cirurgia.

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