A vontade inicial de Cicília era ter parto normal. Pelo menos tentar.
Eu sentia calafrios só de pensar nesta possibilidade e, embora não
desencorajasse, torcia para a médica convencê-la do contrário. A bichinha não
era conhecida por ter resistência a dores.
Uma vez, para tirar um dente, desmaiou várias vezes no consultório.
Agora imagine para dar passagem a um menino. E a médica nos convenceu em duas
consultas.
Na verdade, muitos médicos não têm qualquer interesse em fazer parto
normal. Ponha-se no lugar dele: o telefone toca de madrugada, você corre para o
hospital e passa de 8 a 12 horas com as mãos fazendo uma conchinha para segurar
o menino que pode sair a qualquer momento. Também não queria.
Por outro lado, não dá para simplesmente dizer: só faço cesárea. E o
trabalho de convencimento vem por etapas.
Ao fazer oito meses, as consultas passaram a ter um intervalo menor.
Tudo precisava ser acompanhado mais de perto, pois a qualquer momento Arthur
poderia nascer. Portanto, iniciava-se o processo de convencimento.
“Ele não vai descer não viu. Vai ter que ser cesárea. Quando, na
primeira gravidez da mãe, o bebê não está encaixado aos oito meses, é porque
não vai mais”. Cicília ainda insistia em tentar o parto normal. E eu com medo
de vê-la desmaiar em cima da mesa de cirurgia.
Na consulta seguinte, veio a definição: “ele é muito grande para nascer
normal. Tem que realmente ser cesárea”. Minha dúvida era: “se fosse antigamente,
o que aconteceria?” E ela respondeu sem titubear:
“Morreria a mãe ou o filho ou os dois”. Intimamente agradeci a quem inventou
a cirurgia.
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