Acordamos cedo. Banho, roupa, café da manhã,... Aliás, por falar em
café da manhã... Estou acostumado a sentar em um restaurante e ouvir as pessoas
conversando. E na minha língua. Mas em São Paulo foi um tanto diferente.
Primeiro, o silêncio. Apenas ouvíamos o barulho dos talheres. Incrível como quase
ninguém fala. E quando fala é em japonês. Duvido que no Japão tenha mais
japonês que em São Paulo.
Para o nosso segundo dia em Sampa, a missão era clara: Santa Efigênia e
Braz. E já adianto: fazer isso com duas crianças pequenas é negócio para gente
sem juízo.
Na primeira, o objetivo era comprar equipamento fotográfico. O flash,
que não foi encontrado no dia anterior, e mais uma ou outra coisa. As pessoas fazem
tanto medo, dizendo que certamente você será roubado a qualquer momento, que
não dá para dar as costas nem para a própria sombra. Então era tudo para
frente: bolsa e menino.
E haja braço. Seria impossível andar com Arthur no chão (fiquei com ele,
já que Cicília levava Laís no sling). Era tanta gente que o coitado não duraria
dois segundos. Se soltasse ele, seria igual à manada de antílopes que iam
atropelando Simba. Sem chance.
Mas o pior, na verdade, estava por vir. O Braz. Não tanto pelo cenário,
já que lojas e mais lojas e gente em cima de gente era bem parecido com a 25 de
março e a Santa Efigênia. A diferença é que Cicília danou-se a comprar roupa.
Aí você imagina a cena: uma pessoa carregando a mochila, Arthur e mais dois
sacos de roupa.
Além disso, era preciso dar conta das necessidades individuais dos
meninos: comida, água e xixi. Este último sempre um complicador a mais, pois
dificilmente você encontra um banheiro público limpo. Em certos momentos não
dava para evitar o desespero. Tinha hora que o pensamento era um só: “Jesus,
pode me levar. Já!”. Ainda bem que ele não me ouviu.
Mas depois do que pareceram dias, conseguimos voltar para o hotel.
Apenas para deixar as sacolas, tomar banho, dar banho nas crianças e seguir
para a 25 de março a fim de comprar bijouterias. E aí, reconheço: um dos maiores
erros da minha vida: decidimos ir a pé.
Aparentemente, uma caminhada de 1,5 km é tranquila. Não com duas
crianças, em uma cidade que você não conhece, com pessoas ruins de dar
informações. Cheguei lá morto, obviamente. Mais gente por todo canto e uma ruma
de lojas para entrar. Em todas que entrava, sentava com Arthur, que dormia a
sono solto. Como alguém podia dormir numa agonia daquela eu não sei.
Em uma delas, até bati um papo interessante. O segurança da loja explicou
como é feita a importação dos produtos chineses que são vendidos lá. Basicamente,
é tudo familiar. Uma galera produz na China e manda em containers para os
portos brasileiros. Sempre mudando quando a polícia começa a se ligar. Então
são levados para a 25 de março, onde são vendidos para os brasileiros, depois
de burlar todo o esquema da Receita Federal. Simples assim.