segunda-feira, 11 de novembro de 2013

São Paulo - Parte 2

Acordamos cedo. Banho, roupa, café da manhã,... Aliás, por falar em café da manhã... Estou acostumado a sentar em um restaurante e ouvir as pessoas conversando. E na minha língua. Mas em São Paulo foi um tanto diferente. Primeiro, o silêncio. Apenas ouvíamos o barulho dos talheres. Incrível como quase ninguém fala. E quando fala é em japonês. Duvido que no Japão tenha mais japonês que em São Paulo.

Para o nosso segundo dia em Sampa, a missão era clara: Santa Efigênia e Braz. E já adianto: fazer isso com duas crianças pequenas é negócio para gente sem juízo.

Na primeira, o objetivo era comprar equipamento fotográfico. O flash, que não foi encontrado no dia anterior, e mais uma ou outra coisa. As pessoas fazem tanto medo, dizendo que certamente você será roubado a qualquer momento, que não dá para dar as costas nem para a própria sombra. Então era tudo para frente: bolsa e menino.

E haja braço. Seria impossível andar com Arthur no chão (fiquei com ele, já que Cicília levava Laís no sling). Era tanta gente que o coitado não duraria dois segundos. Se soltasse ele, seria igual à manada de antílopes que iam atropelando Simba. Sem chance.

Mas o pior, na verdade, estava por vir. O Braz. Não tanto pelo cenário, já que lojas e mais lojas e gente em cima de gente era bem parecido com a 25 de março e a Santa Efigênia. A diferença é que Cicília danou-se a comprar roupa. Aí você imagina a cena: uma pessoa carregando a mochila, Arthur e mais dois sacos de roupa.

Além disso, era preciso dar conta das necessidades individuais dos meninos: comida, água e xixi. Este último sempre um complicador a mais, pois dificilmente você encontra um banheiro público limpo. Em certos momentos não dava para evitar o desespero. Tinha hora que o pensamento era um só: “Jesus, pode me levar. Já!”. Ainda bem que ele não me ouviu.

Mas depois do que pareceram dias, conseguimos voltar para o hotel. Apenas para deixar as sacolas, tomar banho, dar banho nas crianças e seguir para a 25 de março a fim de comprar bijouterias. E aí, reconheço: um dos maiores erros da minha vida: decidimos ir a pé.

Aparentemente, uma caminhada de 1,5 km é tranquila. Não com duas crianças, em uma cidade que você não conhece, com pessoas ruins de dar informações. Cheguei lá morto, obviamente. Mais gente por todo canto e uma ruma de lojas para entrar. Em todas que entrava, sentava com Arthur, que dormia a sono solto. Como alguém podia dormir numa agonia daquela eu não sei.

Em uma delas, até bati um papo interessante. O segurança da loja explicou como é feita a importação dos produtos chineses que são vendidos lá. Basicamente, é tudo familiar. Uma galera produz na China e manda em containers para os portos brasileiros. Sempre mudando quando a polícia começa a se ligar. Então são levados para a 25 de março, onde são vendidos para os brasileiros, depois de burlar todo o esquema da Receita Federal. Simples assim.

Depois da aula de contrabando, só me restava mesmo voltar para o hotel, todo muído rezando por uma cama. 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

São Paulo - Parte 1

Eu já imaginava que seria difícil. Antes mesmo de chegar lá. Afinal de contas, percorrer a 25 de março, Santa Efigênia e Brás com uma criança de 3 anos e outra de 1 ano não é mole. Mas a vontade (leia-se compulsão por compras) era maior. E fomos.

Assim que chegamos em São Paulo, passamos no hotel, deixamos as malas e fomos para a 25 de março. Um dos principais centros de muamba do mundo. No momento, o objetivo era comprar um flash para minha máquina. Um “amigo” disse que encontraria com toda a certeza na Galeria Pajé.

Para quem não conhece: pense no Terceirão, em João Pessoa. Imagine-o com oito andares de lojinhas de camelô. Pois é. Passei por todas as lojas. Com Arthur no braço. E uma mochila nas costas. Não dava para deixar nenhum nem outro no chão. O povo levava.

Não achei lá e me mandaram para uma tal Galeria Oriental, que ficava do lado. Um prédio igual, com vários andares e várias lojinhas. Tudo de novo, com o mesmo resultado. Com ódio de Ícaro, o tal “amigo”, só deu tempo de voltar para o carro e pensar em comer e dormir. Mas antes tínhamos outra missão: entregar o carro alugado no aeroporto de Congonhas.

E neste dia, aprendi o que é um engarrafamento. Bem diferente de levar 30 minutos para atravessar a Epitácio Pessoa em horário de pico. Parado. Seis faixas de carros: parados. PARADOS.

Óbvio que se fosse só isso estava de bom tamanho. Afinal de contas, turista que se preze, gosta de conhecer até os problemas das cidades que visita. Mas para completar o cenário, Laís se acabava em lágrimas.

É que estava no horário dela dormir, o que acontece de forma natural quando ela está na cadeirinha. A diferença é que o balanço do carro em movimento ajuda e o sono chega rápido. Com o danado parado, o negócio ficou complicado.

Era um choro desesperado. E o trânsito não ajudava. “Deve ter acontecido alguma coisa aí na frente, não é possível”. Em certo momento, cheguei a pensar em descer e balançar o carro para ver se ela dormia. Ainda bem que não fiz isso. Não acho que seria algo normal de se ver e com a quantidade de ambulâncias e viaturas da polícia passando, com certeza teria sido levado em alguma.

Contudo, após intermináveis minutos, que pareceram dias, chegamos, resolvemos o que precisávamos e retornamos ao hotel para uma merecida noite de sono. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

1 ano de Augusto

Já tinha levado Arthur e Laís para vários aniversários, mas é inegável que o de Augusto havia criado uma expectativa diferente. Era o primeiro ano dele e seria na Pirlimpimpim. Conhece?Se sim, sabe do que estou falando...

Vez ou outra falávamos para Arthur o que teria no dia da festa. E por ser caminho de casa, ele já sabia onde era e mostrava toda vez. “A festa de Augusto vai ser ali”.

Durante todo o período de preparação, ouvia as mulheres falando sobre a roupa do evento. Era um tal de discutir cor, modelo, loja em que iam comprar e eu achando aquilo um exagero. “É uma festa de criança”.

Mas quando chegou a véspera e vi o vestido que Laís iria usar, entendi: “Lascou! Tenho roupa pra esse negócio não”. A menina ia de daminha de casamento! No final das contas, cheguei a pegar uma camisa nova, que foi vetada pela avó do aniversariante. Que por sua vez me entregou uma do próprio esposo, lacrada, vinda direto de Las Vegas.

Receoso de ter uma crise alérgica, vesti. Não sei se graças aos dois anti-alérgicos que havia tomado horas antes por causa de uma crise de rinite, mas não tive nenhuma reação com a camisa. E fui para a festa.

Cheguei ao local carregando minha máquina fotográfica e disposto a registrar todos os momentos. De fato, a festa estava bem bonita. Iria dar para fazer um book. Uma dose de whisky, algumas fotos,... “Eita, tem três videogames lá embaixo e mais um carro de corrida”. Fui. Arthur estava brincando no carro.

“Que lindo, tu tá dirigindo? Que massa. Deixa eu tirar uma foto. Legal! Gostou de dirigir? Pronto, agora sai e vai fazer outra coisa” A partir daí, a coisa ficou descontrolada. As fotos ficaram escassas. Sobre Arthur e Laís tenho algumas vagas lembranças da festa. Olhava, estava com alguém, voltava a brincar.

Às vezes, quando saía para beber refrigerante para matar a sede, voltava e já tinha um pirraia no lugar. Falta de respeito. “Acho que tua mãe tá te chamando. Como é mesmo teu nome? Foi esse mesmo que ouvi, dá uma corrida lá pra ver”.

O ponto negativo é que achei que a festa durou pouco. Cheguei às 17h e às 21h e alguma coisa Cicília já tava me chamando para ir embora. Logo quando, finalmente, tinha pego a malícia do carro de corrida. Quem sabe na próxima?

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O cazá cazá

O ritual para um jogo de futebol começa logo cedo. No caso da partida ser em outra cidade, o muído vem ao longo da semana. “Tô pensando em ir pro jogo”, “acho que vai dar certo domingo”, “os meninos confirmaram”, “ta tudo certo para amanhã”, “a gente sai daqui umas 13h30”. É mais ou menos assim.

Isso para ir amaciando a esposa para ela ficar legal e não ter estresse. Quando chega o tão esperado dia, aí sim o ritual. Separa a camisa, do pai e do filho. Checa ingresso (ou carteira, no caso). Óleo do motor e calibragem dos pneus (são 120 km até Recife).

Arthur já saiu de casa pronto. Camisa, bermuda e sandália. “Vai pra onde?”. “Po jogo do ipot com papai”. Deixamos a feijoada, pegamos Hugo e iniciamos a viagem. O menino tava conversador que só a gota.

Era um tal de falar do casamento de Kiko, de Hugo, do aniversário dele que ia ser de sapo e Laís iria estar de Joaninha... Falou, falou, falou, falou e pegou no sono. Só acordou quando estacionamos o carro ao redor do estádio.

Botei no braço, entreguei a mochilinha a Hugo, peguei a garrafa d’água e fomos embora. O cabra andar cerca de 5 minutos com direito a ponte no meio do caminho com menino pendurado não é fácil. Passamos pela sede e chegamos aos elevadores. Gente. Calor. E o Cazá, Cazá.

Arthur ficou meio assustado. Encostou a cabeça no meu ombro e me abraçou. Ainda estava acanhado.

Elevador até o topo, dois lances de escada para baixo e estávamos nas cadeiras. Sentei com ele no meu colo. E passamos a assistir ao jogo, que já havia começado. Perdemos a entrada dos times em campo.

Para quem gosta de futebol, não tem como descrever a sensação de estar na arquibancada. Rodeado de desconhecidos que tornam-se amigos em frações de segundo. Seja para falar mal de certo jogador, seja para unir-se em xingamentos ao árbitro. Ou ainda para se abraçar no momento mais sublime de uma partida: o gol.

Durante todo o primeiro tempo, observei Arthur. Ao contrário do jogo anterior, estava solto. Animado. Batia palmas. Gritava. Empurrava o time junto com os outros 32.967 torcedores.

E depois do intervalo, mostrou que estava em casa. À vontade. Orgulhoso, só fiz ligar a câmera do celular e apontar para ele. O resultado foi esse aí: Cazá Cazá! 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O dente de Laís

Acidente é sempre um momento complicado. Com os filhos então...

De férias, fomos para Natal passear e acabamos ficando o último dia em um hotel da Via Costeira. Estávamos no quarto, nos organizando para sair. Banho, roupa, perfume, sapato,... E Laís pulava.

Confesso: não existe pula-pula mais legal que cama de hotel. O colchão é fofo e a danada agüenta. Mas é também um risco potencial para tragédias.

No caso específico, Laís já tinha pulado e reclamei, tentando evitar qualquer coisa. Só que quando tem que acontecer, não tem jeito. A bichinha estava sentada, logo após tomar banho e vestir a roupa. Só estava lá porque não tinha colocado os sapatos, que por sinal eu estava procurando para pôr.

Virei de costas, quando de repente... POTOFE. Corri para pegá-la e quando virei para mim, já vi o estrago. Metade do dente tinha ido embora. Veio o choro. “O que foi isso?”. Era Cicília de dentro do banheiro. “Nada demais, foi só Laís que caiu da cama, mas to com ela aqui”. “Machucou?”. “Nada demais, só quebrou um pedacinho do dente”. Pronto.

Laís chorava de um lado, Cicília se desesperava para o outro e eu tentando manter a calma no meio. Vesti a primeira roupa que achei e carreguei a menina para a cozinha do hotel. Peguei um punhado de gelo e comecei a passar no dente.

Depois de uns bons 15 minutos, voltamos para o quarto para só então Cicília ter coragem de olhar o estrago. “Só um pedacinho?”. Não precisa nem dizer que ela perdeu o dia.

Quanto a Laís, nem aí. Com ou sem dente, o negócio dela era agitar. E ficou como se nada tivesse acontecido. 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dia dos Pais na Lourdinas

Não vou mentir. Estava ansioso. Afinal de contas, era a primeira festa de Dia dos Pais da escola de Arthur. Lourdinas. Desde o início do ano, decidi que iria participar de todas as atividades escolares. Até para evitar certos traumas de infância, em que eu costumava passar cerca de 15 dias ensaiando para homenagear meus genitores e quando chegava o dia, a homenagem era para os pais dos outros...

Quem nunca passou pela experiência, não sabe o que é cantar “Maria, Maria” para ninguém. Ou “Pai” para a mesma pessoa: ninguém! Sentiu o trauma? Pois bem, não queria isso para Arthur. Fui para a festa.

Mesmo que fosse em um sábado, dia de um rally da Mitsubishi. Fui. E não vi nada demais.

Na verdade, a tal homenagem aos pais foi bem diferente do que tinha em mente. Pensava em ver Arthur aos berros cantando em cima do palco alguma música sentimental e eu, na platéia, tentando manter a câmera firme, sem saber se fotografava ou filmava, enquanto os olhos se acabavam em lágrimas.

Chegamos, fomos para o pátio, um calor da mulesta... Sentei com Arthur no colo e uma abelha começou a me rondar. Lembro que tinha uma mulher puxando a reza e algumas músicas. Depois entrou um padre, que falou algumas coisas legais e por fim um lanche.

Em seguida, dividiram os pais em grupos, aula de alongamento e parque brincar. Legal.

Mas com tanta gente ao mesmo tempo, só em pensar em ficar na fila para alguma atividade dava vontade de sair correndo.

Além disso, Arthur tinha atingido certo nível de irritação e chorava por tudo. Resolvemos então abdicar da “diversão” e fomos embora.

Com a sensação de “valeu a intenção”.

terça-feira, 23 de julho de 2013

O cinema

A primeira ida ao teatro não deu tão certo, mas acreditava que talvez a Sétima Arte tivesse um efeito melhor. Afinal de contas era desenho com fadinha, tudo bonitinho. Foi então com o pensamento positivo que decidi levar Arthur para ver Tinkerbell e o Segredo das Fadas.

Sair de casa é sempre um processo trabalhoso. Menino almoçado? Ok! Sentado na cadeirinha? Ok! Roupa reserva? Ok! Fralda? Ok! Garrafa com água? Ok! Lanche? Ok! Fomos.

Com tanta coisa para pegar, fica um tanto inviável chegar antes da hora em qualquer compromisso. Depois de rodar todo o minúsculo estacionamento do Mag Shopping atrás de uma vaga, deixamos o carro e subimos.

Fila, espera, ingresso,... “Quer pipoca?”. “Quéio!”. Outra fila, outra espera, pipoca,... “Bora que vai começar”. “Quer ir no banheiro?”. “Quéio!”. Abre a calça, piloca para fora, faz xixi, sacode, guarda, descarga,... “Xau Xixi”.

Como estava cheio de coisa nas mãos, pedi para Arthur me acompanhar a pé. Fomos em direção à sala, ele atrás de mim. Peguei os óculos (sim, era 3D, brinque não), fui caminhando, meia luz, subindo a rampa... “Tu vai querer usar óculos Arthur?”. “Arthur?!”. O menino estava estancado lá na porta com medo de entrar naquela sala escura. Não quis de jeito nenhum. Voltei.

Imagino as pessoas quando me viram entrar: “Quem é esse coitado?”

Meus braços tinham: Arthur, pipoca, água, bolsa, ingresso, celular e óculos. Até hoje não sei como consegui. Fui até a cadeira indicada e foi outra luta. Ele não queria ficar no chão. Nem na cadeira, com medo dela dobrar com ele dentro. Fiz toda uma acrobacia para conseguir nos acomodar e não deixar nada cair.

Depois de uns cinco minutos, consegui. A luz apagou e iniciou o filme.

Ao contrário do que imaginei, ele aceitou colocar os óculos. E aproveitava tudo de pertinho. Fadinhas, coelhos, esquilos, corujas, folhas e não quis mais. Foram 10 minutos apenas. E passou a ver o filme todo embaçado.

Fora isso, tudo seguiu tranqüilo. Nos conformes. Bom, pelo menos até a pipoca acabar. Porque aí o negócio desandou. Ele começou a chorar. “Quéio ir pa casa”. “Hômi, deixe de resenha, fique quieto que tem o filme todinho ainda”. “Eu QUÉIO IR PA CASA”. Quem tem filho sabe. Nesses momentos bate O desespero. A vontade é enfiar a cabeça dele dentro do saco de pipoca para ver se não incomoda os outros. Mas ninguém faria isso.

Levantei, fui para a lateral da sala e fiquei no balanço... “psssss, psssss, psssss”. Depois de um tempo, dormiu e eu fiquei lá, vendo o filme. Em pé. Só após vários minutos consegui sentar. Com ele dormindo. E fiquei assim, até o final do filme. Que deve ter durado uns 7 ou 8 minutos.


Bom, pelo menos ele não teve medo de Tinkerbell. O que me deu esperanças de voltar para ver outro filme.

domingo, 21 de julho de 2013

A língua

Nem sempre é possível ensinar bons modos aos filhos. A gente tenta. Mas às vezes eles não querem aprender. E quando executam certa falta de educação na frente dos outros, os pais são logo acusados: “Esse menino tem mãe? Tem pai? Mal educado!”.

Já disse aqui que levo a sério a tal história do papel dos padrinhos para a criança. São segundos pais. Tanto podem contribuir para a educação quanto prejudicar.

Por exemplo: Tia Luedva sempre quis ensinar Arthur a estirar língua. Papai, Mamãe, Tia Sá e Tio Col nunca deixaram. Resultado: ele não adquiriu este hábito. Laís sim.

Por ser madrinha dela, Tia Évia tem mais poder de ação. E ensinou a menina a botar a língua para fora como se fosse a coisa mais linda do mundo. Confesso que ver uma criança fazer certas coisas EM CASA é bonitinho. Mas não pode virar costume, pois uma dia vai fazer na frente de uma visita, por exemplo.

Mas tudo isso foi só para contar a seguinte história:

Era mais um dia comum em casa. Acorda cedo, toma banho, dá banho nas crianças, prepara café, senta para comer e... lá vem Laís sentar no colo da mãe. Como sempre. Em dado momento, ela começa a estirar língua para todo lado. “Pare com isso. Guarde essa língua”. “UUUnnnnaaaa”. E tome mostrar. Agora mais especificamente para mim.

Juntei toda a seriedade que consegui naquele momento e disse: “Feche a boca senão vou cortar sua língua”. Ela olha no fundo dos meus olhos. Vejo algo que acho ser respeito. “Ela vai parar”, pensei.

De repente, ela abre um sorriso maroto e faz: “UUUUNNNNAAAA”. Aponta para mim e começa a rir de forma debochada. Dando gargalhadas.

E eu, já sem moral alguma, apenas esboço um sorriso e penso: “Luedva me paga”.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O primeiro jogo

A escolha do time de futebol envolve diversas variáveis. Mas por mais que haja influência, é algo que brota do fundo da alma. Coisa de amor, paixão e por aí vai. Um sentimento que cresce aos poucos e, de repente, não existem vários clubes. Existe o seu e os outros. Obviamente, o pai tenta passar isso para o filho. Fazer a mesma escolha.

Para quem gosta de futebol, não há nada mais mágico que aquele momento em que você passa a catraca e vê, de pertinho, o campo de jogo. Centenas, milhares de pessoas que parecem ser amigos de anos. Pelo simples de fato de torcerem pelo mesmo time. Oportunidade de cantar junto, vibrar junto, xingar junto e, claro, comemorar junto.

Queria que meus filhos sentissem isso. E planejei levar Arthur ao primeiro jogo quando completasse dois anos. Aquela coisa de já sentar, falar alguma coisa, saber que não estaria em um lugar qualquer, mas em um local sagrado.

Saímos de João Pessoa com destino ao Recife. Conosco, Cláudio Felipe. Arthur estava com roupa completa do Sport. Camisa, calção e meias. No caminho, dormiu a viagem toda. Acordou apenas quando estávamos na Av. Caxangá, já próximos à Ilha do Retiro.

Carro estacionado, copo com água, bolsa com fralda e biscoito, Arthur no braço e fomos em frente. Tirando o peso dele, que depois me fez passar dois dias com dores, a caminhada foi tranqüila. Já na porta do estádio, muita gente, ingresso na mão... Arthur olhava ao redor. “Pelo Sport Nada?...”

Entramos. Escolhemos um lugar folgado na arquibancada e ele ficou lá, sentadinho. Observava tudo. “O jogador caiu, papai”. “Cadê a bola, papai?”. “Muita gente né, papai?!”.

No segundo tempo, com Arthur um pouco impaciente, tive que ver o resto da partida em pé com ele no braço. Fomos para perto da charanga e gostou. Agitou os braços junto com os outros. Cantou. Até o final. E deixamos a nossa “casa” com a promessa de voltar muitas outras vezes.

No caminho de volta é que tivemos um “pequeno” imprevisto. Estávamos em Abreu e Lima, quando senti um certo odor característico. Não dava para continuar. Paramos em um posto de gasolina. Se trocar fralda dentro de umbanheiro de avião é difícil, imagine em um posto de gasolina em que TUDO é sujo. Até o ar.

Deitei Arthur no banco de trás do carro. Tinha a esperança de resolver o problema com o lenço umedecido. Tirei a fralda e... “Tá cá mulesta!”. Não dava. Raspei o que deu com a fralda e carreguei pro banheiro. Em pé, com ele no braço, jogava água, segurava, limpava, escorregava, segurava, molhava,... Até ficar tudo resolvido.

Mais um feito conquistado. Que depois, nem chegou perto de ser o acontecimento mais importante do dia.


Tudo porque foi nesse dia que, pela primeira vez, ouvimos e cantamos juntos o Cazá, Cazá na Ilha do Retiro. De longe, um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Aquele em que você sente que conseguiu completar o ciclo. Que passou a herança.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A fuga

Um bebê com três meses de vida não tem muita desenvoltura. Não consegue sentar, segura o pescoço com dificuldade, dificilmente rola na cama... então,  supõe-se que ao colocá-lo em um lugar, ele vai ficar. Correto? Se disse sim, não conhece Laís.

De férias, resolvemos passar o dia em Porto de Galinhas. Estávamos passeando, vendo artesanato, quando surgiu um convite. “Vai nesse Resort aqui, você conhece e ganha o almoço inteiramente grátis e sem pagar nada”. Fomos.

Depois de percorrer todas as dependências do hotel com uma mulher puxando conversa sobre planejamento de férias, que tipo de viagem gosta de fazer e etc, não compramos o plano que ela tinha para vender (sempre tem, né?) e fomos almoçar.

Cadeirinha especial para Arthur, Laís no bebê conforto no chão, ao lado da mesa, fomos comendo e conversando. Depois de certo tempo, assunto vai, vem, eis que o garçom olha para gente e diz: “Senhor, a menina está no chão”.

Olhei para baixo e vi Laís, toda faceira, deitada com a cabeça no chão, de barriga para cima, fora do bebê conforto, sorriso no rosto. Não acreditei. Como mulesta ela tinha feito isso? Tudo bem que estava sem cinto, mas como um bebê de três meses sai dali sem ajuda?

Pegamos, botamos de volta, devidamente presa com o cinto e ao olhar para a mesa o lado tivemos que ouvir o comentário de uma retardada: “Eu até tinha visto que ela estava no chão, mas achei que vocês tinham colocado de propósito”.

É, deve ser porque o chão estava frio.

Ah, em outra oportunidade, Cicília filmou a astúcia e o mistério foi desvendado: Clique aqui.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A testa de Laís

Pai - Homem que gerou um ou mais filhos em relação a estes; genitor; homem colocado no primeiro grau da linha ascendente de parentesco. Animal macho que gerou outro”.

Isso é o que está no Dicionário Michaelis, mas eu posso acrescentar uma coisinha: “aquele ser que na hora que a filha lasca a testa em uma quina (com direito a sangue e tudo mais) mantém a calma, passa gelo e leva para o médico”.

...

Havíamos decidido tentar outra pediatra, já que Dra Liane nunca batia com nossos horários. Era o primeiro dia que levaríamos para Dra Ana Flávia. Cheguei da TV na carreira, coloquei meu almoço e... POTOFE!

Laís começou a chorar. Até aí normal. Sabe como é criança quando começa a andar. D. Maria José entra na cozinha com ela nos braços. O local da pancada estava branco. “eita que essa foi de lascar”.

Botei no braço e junto com Nena começamos a botar gelo. Cicília estava arrumando Arthur. E tome choro. E tome gelo. Saí da cozinha e fomos para a garagem, onde estava mais ventilado. E mais choro. E mais gelo. De repente Cicília chega.

“Ai meu Deus, tem que levar essa menina no médico”. E começou a se tremer para o outro lado. E eu com ela no braço. Não sei de onde vinha tanta calma. Colocamos os dois no carro e fomos para a pediatra.

Depois de alguns metros, já dentro do carro, comecei a sentir um nervosismo crescendo. “Agora não”. E segui. Chegamos no consultório e falamos com a atendente. A essa altura Laís já estava sem chorar. A moça estava no telefone. Cinco minutos depois: “Ana Flávia atende aqui ao lado”.

“Oh imbecil, porque não disse logo?”. “Eu estava no telefone”. “E NÃO PODIA DESLIGAR ESSA MERDA NÃO?”. E saí.

Na sala ao lado, entreguei os cartões da Unimed, preenchi um formulário (já que era a primeira vez com ela) e... Não dava mais.

Joguei a caneta na mesa, levantei e saí. Queria estar longe de Arthur e Cicília. E deixei os sentimentos saírem. Comecei a me tremer. Veio também uma vontade de chorar. Respirei fundo. Por cerca de 15 segundos deixei o desespero tomar conta de mim. A imagem da testa de Laís machucada crescia na minha mente.


Depois disso recuperei o autocontrole. Voltei para a sala. E fui acompanhar a consulta. Mas só fiquei calmo mesmo quando a médica disse que não era nada demais. Tinha sido “só” um susto.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A outra

Por mais que a gente tivesse preparado Arthur para o nascimento de Laís, eu sabia mais ou menos o que se passava na cabeça dele. Por ter vivido situação parecida (a diferença é que eu tinha 5 anos quando Andréa nasceu), tinha noção de que, naquela momento, ela era nada mais que a “Outra”.

E pensa bem: você é o centro das atenções, quando de repente, aparece uma pirralha, que não mede meio metro e todo mundo quer ver. Não é fácil digerir.

“Laís nasceu. Olha só o que ela trouxe pra você. Um presente”. Como se dentro do útero tivesse uma loja da Ri Happy.

E foi dentro do esperado. De início, a rejeição. A gente botava no colo, ele meio que afastava, fazia cara de contrariado e pedia para tirar. Botava para empurrar o carrinho, ele ia com a maior má vontade do mundo. Sempre com um olhar desconfiado.

Mas criança esquece logo das coisas. É uma vantagem que elas têm sobre os adultos. Não guardam rancor. E bastaram apenas uns dias para Arthur deixar para trás a ranzinza e tomar conta da irmãzinha.

Bastava perguntar: “quem é essa menina linda?”. “Minha imãzinha”. E com muito orgulho.

terça-feira, 26 de março de 2013

A primeira vez no teatro


Sempre pensei em incentivar meus filhos com relação à cultura. Ler, freqüentar teatros, cinemas, museus, essas coisas. E depois que Arthur fez 2 anos, achei que o momento de levá-lo ao teatro estava chegando. E a oportunidade surgiu quando anunciaram o show da Galinha Pintadinha em João Pessoa.

Montei um verdadeiro arsenal de guerra (fralda, água, biscoito, roupa reserva, pomada) arrumei Arthur e fomos para o Teatro Santa Roza. Muitas crianças, papais, mamães, todos loucos para ver o espetáculo.

Vale destacar que Kalessa apresentou a Galinha Pintadinha para o afilhado. E desde o início ele ficou louco. E quem não gostaria? Estavam lá todas as músicas da nossa infância: Pintinho Amarelinho, Pombinha Branca, O Sapo não Lava o Pé e por aí vai.

Já que ele era fã, seria o máximo. Um dia que com certeza o deixaria com vontade de voltar ao teatro outras vezes.

Entramos e ficamos nas primeiras fileiras. As pessoas iam chegando.  “Vai começar a Galinha Pintadinha. Vai ser ali em cima. Não é legal?”. Ele apenas olhava. Não quis sentar na cadeira. Ficou no meu colo.

De repente, o início: “BOA TARDE CRIANÇADA. VAI COMEÇAR O ESPETÁCULO A GALINHA PINTADINHA”. Estávamos ao lado de um alto-falante. Arthur pediu para sair. “Não, vamos ficar. Vai começar. Olha só”.

Foi um dos maiores erros da minha vida. Quando Mariana (aquela mesmo da música que conta até 10) entrou no palco, eu senti um frio na espinha de medo. Eita Mariana feia da mulinga. Só tinha cabeça. Se eu tive medo, avalie Arthur. Ficou aos berros.

Na mesma hora levantei e fui lá para a bilheteria. Só quando não estávamos mais vendo o palco foi que se acalmou. Foram 10 minutos de psicologia para parar de chorar. Aos poucos fui subindo a escada para ver o palco. Um degrau. Depois dois. Três. Quatro. Ficamos próximos de umas cadeiras, na última fileira.

Ainda em pé, percebi um ser se aproximando. Ao olhar era a Barata. A da música. Tremi todo só de pensar no choro de Arthur. Mas não aconteceu. Ele estava realmente mais calmo. Depois de um bom tempo consegui convencê-lo a sentar. Acredito que vi ainda mais cinco ou dez minutos de espetáculo e acabou.

Fomos embora. A experiência não tinha sido bem como havia imaginado, mas ele conheceu um teatro. E saiu de lá com a lembrança mais forte que teve desse momento: “Maliana fêa da mulinga né Papai?”


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A cueca


Ter um filho também é saber descartar. Não ele, claro. Mas alguns objetos.

Estávamos de férias (tecnicamente, Cicília estava de licença maternidade). Passamos então alguns dias na casa de Tia Andréa em Jaboatão. Uma noite resolvemos jantar no Laça Burguer.

Fizemos os pedidos, cada um com seu prato. Laça Coração, Laça Chiken, Laça Cheese, Laça alguma coisa e bebidas. Fernando estava cabisbaixo, um pouco triste após ter negado o pedido de comer um Beirute (aquele sanduíche que alimenta 20 pessoas esfomeadas).

Arthur andava pela lanchonete, brincando, conversando e... “Esse menino ta quieto demais ali no canto. Deve estar fazendo alguma coisa”. Observei os sintomas: rosto tendendo ao roxo, veias à mostra, barriga levemente inclinada para a frente. Se ainda tinha alguma dúvida foi dissipada com a confissão: “Papai, cocô”.

Quando se percebe que seu filho fez algo desse tipo em um local público e ainda faz questão de falar, você entra em desespero. É preciso esconder o menino e resolver o problema antes que todos morram por inanição.

Corri para o banheiro com ele nos braços e tranquei a porta. Olhei para ele. Ele sorriu. “Vamos tirar a bermudinha?”. Ao tirar a bermuda percebi o tamanho do problema.

Estávamos em uma fase de tentar tirar a fralda, portanto, ele tinha apenas a cueca para segurar aquele negócio todo. E estava cheia. Muita cheia. Fiz cálculos mentais para tentar retirar a cueca sem sujar todo o banheiro. Já disse aqui antes que sou Jornalista. Claro que os cálculos deram errado.

Ao baixar a cueca veio tudo junto. O desespero foi aumentando. Aquilo escorria pela perna e eu sem saber o que fazer. Retirei a cueca e por um instante fiquei em dúvida: “O que faço agora? Lavo onde?”. E a solução veio rápida e prática.

Com o pé, apertei o pedal da lixeira e joguei a cueca dentro. Para nunca mais vê-la na minha vida. Peguei papel toalha suficiente para criar uma múmia e limpei Arthur. Recoloquei a bermuda (por mais incrível que pareça estava limpa) e saímos.

Neste dia aprendi que não devemos comprar cuecas caras para nossos filhos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Nascimento de Laís - Final


A única pergunta que vinha na minha cabeça era: “porque dessa vez me colocaram pra ver tudo? E se eu desmaiar?”. Lembro que com Arthur, eu fiquei exatamente atrás do pano, sem ver nada. Tudo bem que depois fiquei pulando para tentar ver alguma coisa. Mas desta vez eu estava em diagonal. Vi tudo que tinha para ver.

E ouvi a conversa também. “Soubesse de Fulana?” “Mulher, soube. Não acreditei”. E eu lá. Na expectativa. Esperei. E depois do bate-papo sobre as vidas de fulana, beltrana e quem lá fosse, saiu.

Uma coisinha minúscula, branquinha e que chorava.

Mesmo sendo a segunda vez que sentia isso, não dá para descrever. É um amor que não se mede. É Deus sentando do seu lado e dizendo: “Estou lhe entregando aos seus cuidados porque confio em você. Cuide bem!”.

São milhares de pensamentos ao mesmo tempo. Um turbilhão de idéias. Não dá para pensar direito em nada. Percebi que Kalessa estava na sala (como havia sido há dois anos). Nem lembro de onde saiu. De forma automática, comecei a tirar fotos.

E fiquei naquela coisa meio sem saber o que fazer. De repente, a médica olha pra mim e me oferece minha filha. Peguei-a com todo o cuidado do mundo. Aconcheguei em meus braços e olhei. Algo aconteceu com o mundo naquele momento.

Era como se tudo tivesse parado. Nada mais tinha importância. O resto do mundo parecia sem importância quando comparados com aquele ser pequeno e indefeso. Demorou alguns segundos (que pareceram horas) para que eu voltasse a pensar em algo.

E quando isso aconteceu, cheguei próximo dos ouvidos dela e cantarolei como tinha feito com Arthur: “Cazá, Cazá, Cazá, Cazá, Cazá, a Turma é mesmo boa, é mesmo da Fuzarca, Sport, Sport, Sport”.