sexta-feira, 19 de julho de 2013

O primeiro jogo

A escolha do time de futebol envolve diversas variáveis. Mas por mais que haja influência, é algo que brota do fundo da alma. Coisa de amor, paixão e por aí vai. Um sentimento que cresce aos poucos e, de repente, não existem vários clubes. Existe o seu e os outros. Obviamente, o pai tenta passar isso para o filho. Fazer a mesma escolha.

Para quem gosta de futebol, não há nada mais mágico que aquele momento em que você passa a catraca e vê, de pertinho, o campo de jogo. Centenas, milhares de pessoas que parecem ser amigos de anos. Pelo simples de fato de torcerem pelo mesmo time. Oportunidade de cantar junto, vibrar junto, xingar junto e, claro, comemorar junto.

Queria que meus filhos sentissem isso. E planejei levar Arthur ao primeiro jogo quando completasse dois anos. Aquela coisa de já sentar, falar alguma coisa, saber que não estaria em um lugar qualquer, mas em um local sagrado.

Saímos de João Pessoa com destino ao Recife. Conosco, Cláudio Felipe. Arthur estava com roupa completa do Sport. Camisa, calção e meias. No caminho, dormiu a viagem toda. Acordou apenas quando estávamos na Av. Caxangá, já próximos à Ilha do Retiro.

Carro estacionado, copo com água, bolsa com fralda e biscoito, Arthur no braço e fomos em frente. Tirando o peso dele, que depois me fez passar dois dias com dores, a caminhada foi tranqüila. Já na porta do estádio, muita gente, ingresso na mão... Arthur olhava ao redor. “Pelo Sport Nada?...”

Entramos. Escolhemos um lugar folgado na arquibancada e ele ficou lá, sentadinho. Observava tudo. “O jogador caiu, papai”. “Cadê a bola, papai?”. “Muita gente né, papai?!”.

No segundo tempo, com Arthur um pouco impaciente, tive que ver o resto da partida em pé com ele no braço. Fomos para perto da charanga e gostou. Agitou os braços junto com os outros. Cantou. Até o final. E deixamos a nossa “casa” com a promessa de voltar muitas outras vezes.

No caminho de volta é que tivemos um “pequeno” imprevisto. Estávamos em Abreu e Lima, quando senti um certo odor característico. Não dava para continuar. Paramos em um posto de gasolina. Se trocar fralda dentro de umbanheiro de avião é difícil, imagine em um posto de gasolina em que TUDO é sujo. Até o ar.

Deitei Arthur no banco de trás do carro. Tinha a esperança de resolver o problema com o lenço umedecido. Tirei a fralda e... “Tá cá mulesta!”. Não dava. Raspei o que deu com a fralda e carreguei pro banheiro. Em pé, com ele no braço, jogava água, segurava, limpava, escorregava, segurava, molhava,... Até ficar tudo resolvido.

Mais um feito conquistado. Que depois, nem chegou perto de ser o acontecimento mais importante do dia.


Tudo porque foi nesse dia que, pela primeira vez, ouvimos e cantamos juntos o Cazá, Cazá na Ilha do Retiro. De longe, um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Aquele em que você sente que conseguiu completar o ciclo. Que passou a herança.

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