segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O bebê conforto


Tem dia que nada resolve. Ou quase nada. E por mais que você siga um ritual, nem sempre o bebê vai cooperar e dormir o tempo todo quando estiver a sós com ele. E não demorou a acontecer com Arthur.

Depois de sair do trabalho e pegá-lo na casa da avó, seguimos para casa. Normalmente, ele dorme durante o percurso. Ao passar por Intermares e perceber que não havia sinal de sono, senti uma certa apreensão. Que começou a se transformar em medo ao chegar no Poço e ver que a situação não havia se alterado.

E depois passou a beirar o desespero ao estacionar o carro na garagem do prédio. Com Arthur bem acordado. O jeito seria colocar para dormir no braço mesmo. Subimos.

Em casa, não teve jeito. Foram vários minutos de tentativas, sacudindo o menino, fazendo pssssss até dar uma dor no meu ouvido e nada. Só choro. O desespero já tomava conta de mim. Sem saber mais o que fazer para acalmá-lo, recorri à arma secreta: o bebê conforto.

Como disse, normalmente ele dormia no percurso até chegar em casa. Coloquei-o de volta no bebê conforto, voltamos para o carro e fui andar. “Vou arrudiar esses retornos de Camboinha até tu dormir. Quero ver!”.

Depois de duas voltas, percebi que ele havia se rendido. Dormia tranquilamente. Dei mais uma por garantia e retornei para o apartamento. Com todo o cuidado do mundo, deixei o menino no berço e pude finalmente relaxar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A fórmula do sono


Durante os noves meses da gravidez, ouvi dizer que nunca mais iria dormir. Que depois que um filho nasce se perde o sono. Que ele pode ter 40 anos e você não dorme a noite toda. Claro que senti medo.

Nos primeiros meses, Arthur acordava, era verdade, mas se acalmava assim que era colocado no peito. Com o fim da licença maternidade, meu maior temor era que ele acordasse no meio da noite. Só de pensar me tremia todo. Porque para acalmá-lo teria que ser na raça.

Contudo, depois de cinco meses, ele já tinha começado a comer outras coisas. Frutas, papas, etc. E a pediatra tinha passado uma receita de mingau. Que eu acabei por descobrir que é tudo que você precisa para uma boa noite de sono.

Uma medida de leite em pó de criança para cada 30ml de água; mais Farinha Láctea dependendo da quantidade de líquido.

Foi justamente aí que descobri as propriedades soníferas da Farinha Láctea. Cinco medidas desse negócio deixava Arthur pianinho, dormindo a noite toda e eu desmitificava essa história de não dormir mais nunca na vida. E mantive o sono dele. E  o meu.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A primeira noite sozinho com Arthur


À medida que a licença maternidade de Cicília chegava ao fim, aproximava-se o momento em que eu teria de encarar o grande desafio: passar a noite sozinho com Arthur. Até ali tinha sido fácil. Chorou, peito; chorou, peito. Mas eu não nunca tive leite, então iria ter que me virar.

Ela trabalhava em sistema de plantão. O que significava dizer que seria a noite toda apenas eu e ele. Com o passar dos dias a apreensão aumentava. Como seria? E se chorasse? E se tivesse fome? E se quisesse leite de peito?

Quando chegou o dia, medo.

Saí do trabalho, peguei Arthur na casa da avó e passei na maternidade. O negócio era encher o menino de leite até a tampa e rezar para ele dormir a noite toda. Depois de mamar e cair no sono, coloquei com cuidado no bebê conforto. Olhei: dormia.

Segui para casa. Com cuidado, evitando os buracos e as curvas bruscas para não acordá-lo.

O negócio era: tirar do carro, subir as escadas, colocar no berço e torcer para ele dormir a noite toda. Simples? Não. Mas tinha que tentar. Minha noite de sono dependia do sucesso da empreitada. E continuei meu caminho.

Qualquer barulho vindo do banco de trás me fazia checar se estava tudo certo. Dormia.

Finalmente cheguei no prédio. Desci do carro, tirei o bebê conforto (dica: o balançado ajuda a manter o sono) e subi as escadas. Mesmo com a luz dos corredores, tudo tranqüilo. Não acordou. Abri a porta e entrei em casa. Com cuidado, levei o bebê conforto para o quarto. E aí apareceu a grande questão: tirar ou deixar onde estava?

Se estava tão bem ali, porque atrapalhar o sono dele? Mas ao mesmo tempo a consciência dizia que seria mais legal de minha parte se eu o colocasse no berço. E decidi tentar. Com toda a delicadeza do mundo e o medo em cada fio de cabelo, retirei.

Fiz um psssssssss no ouvido assim que escutei os primeiros resmungos. “Devia ter deixado lá. Vai dar errado. Vou passar a noite acordado”. Dormiu. Fui até o berço e coloquei. Mais um pssssss e finalmente senti que tinha terminado. Uma gota de suor escorreu pelo meu rosto.

Após um instante de contemplação daquela coisinha linda dormindo bem tranqüila, tomei uma decisão: abri na carreira para tomar banho, engolir alguma coisa e dormir. Afinal de contas, aquela era uma bomba relógio que poderia disparar a qualquer momento. 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A viagem de avião


Na primeira viagem com Arthur passei por maus bocados. De férias depois de vários anos, resolvemos conhecer Gramado. Saímos de casa por volta das 3h da manhã para o aeroporto. Na sala de embarque, o primeiro susto. Cocô.

Banheiro, lenço umedecido, pomada, fralda, limpo de novo. Mas o pior ainda estava por vir.

A dica da pediatra para viajar com um bebê de 1 ano era dar remédio para dormir. Não funcionou com Arthur, que ficou bem acordado.E o bichinho deve ter tido muito medo viu. Logo depois de decolar, percebemos um odor diferente dentro do avião. Quando olhamos: “Minha nossa”.

Licença, deixa eu passar por favor, licença, afasta um pouquinho, desculpa, obrigado.

Até hoje não sei explicar como conseguimos entrar os três no banheiro. Quando baixamos a calça veio tudo junto. É um negócio meio desesperador. Você não sabe o que fazer. Afinal, é muita coisa. Normalmente o que vem primeiro na cabeça é chorar e pedir socorro.

Mas fomos ajeitando, limpando e o menino achando tudo aquilo o máximo. Depois de passada a parte mais crítica, deixei o banheiro e Cicília terminou o serviço. E só então percebi a dimensão do problema.

Fechei a porta do banheiro e olhei para as aeromoças que estavam sentadas no final da aeronave. Uma tinha dois dedos prendendo o nariz. Outra fazia uma careta enrugando o rosto. E a terceira, mais espontânea: “afe Maria, que cheiro é esse hein?”.

Sorrateiramente sentei na primeira cadeira disponível e aguardei a saída deles do banheiro. Só depois que passaram por mim é que levantei e voltei ao meu lugar.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A comida


Enquanto Cicília estava de licença maternidade eu nao me preocupava com comida. Bastava um choro, pegava Arthur e pendurava no peito dela. Leite à vontade. Mas seis meses depois acabou essa folga. E tive que passar por mais um processo de aprendizado: dar comida.

A primeira coisa que pensei quando vi a quantidade de mamão machucado no prato foi: “nunca que ele vai comer isso tudo. Eu vou é comer e dá o tapeia”. Mas com Cícilia perto não dava. E comecei a dar. E descobri o quanto é difícil convencer alguém que não entende nada do que dizemos a fazer o que queremos.

Ele simplesmente não engolia. Enchia a colher, fazia avião, abria a boca, apertava e nada. Quando conseguia fazer a comida entrar, a colher saía do mesmo jeito. Tentei umas sacudidas dentro da boca, mas também não deram certo. Fruta machucada parece que ganha as propriedades da cola. Gruda de um jeito que não sai.

Só depois de muito tempo é que consegui dominar a técnica. Enchia a colher, empurrava para dentro e passava no céu da boca. Voltava quase fazia. E fui assim, até ficar metade do prato. A partir daí não teve acordo. Não quis mais e acabou-se. Contudo, já estava feliz por ter dominado a situação e ter conseguido fazê-lo comer. Mesmo que tenha durado cerca de trinta minutos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Patatiiiii


Com grande parte da família sem poder sair de Recife para a festa de Arthur em João Pessoa, a solução encontrada foi realizar duas festas. Que, diga-se, ficou a maior parte sob a responsabilidade de Mainha. O tema foi o mesmo: O Pequeno Príncipe.

Chegamos, ajudamos a terminar de organizar e recomeçou toda aquela coisa de organizador de festa: “Olá, seja bem vindo. Está precisando de alguma coisa? Cadê o animador? Pode sentar aqui. Olá quanto tempo. Precisa comprar mais alguma coisa? Cadê Arthur?”

Um detalhe que chamou a atenção na festa foi o animador. Ou pelo menos era desta forma que ele se denominava. Particularmente não chamaria assim alguém que não sabe lidar com crianças, não sabe brincar e passa a festa toda fazendo maquiagem de bicho no rosto dos pirraias.

Por outro lado, o mais legal é que a festa aconteceu no dia do meu aniversário.

Quando Arthur nasceu (10 de fevereiro), todos disseram que eu havia perdido meu aniversário, que acontece dois dias depois. E o coro se acentuou com a festa de 1 ano em Recife, justamente neste dia. Mas não.

Eu ganhei. Ora, quer presente mais legal do que comemorar o nascimento do próprio filho? Mas ainda assim, Mainha achou que, por algum motivo, eu merecia uma festa própria. E quando a de Arthur terminou, tive direito a uma só para mim, com bolo do Sport e tudo.

Contudo, nada se comparou à alegria de ver Arthur abrindo os presentes. O da Bisa, para ser mais específico. Que mostrou talento para escolher. Mainha foi contra. Dizia que Arthur iria se assustar.

Era uma caixa enorme embrulhado em um papel amarelo. O último a ser aberto. Rasga aqui, ali e começam a surgir os primeiros detalhes do brinquedo. Ajuda a rasgar. Um boneco do Patati maior do que ele.

E, de repente, sem ninguém esperar, o grito: “Patatiiiiiiiii”. Ele começou a rir e bater na caixa com as duas mãos. É, não dava para negar. Ele era fã do Patati. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O aniversário de 1 ano


Por mais trabalhoso que seja organizar uma festa de aniversário não há nada melhor que do que ver tudo pronto. Quando vi o salão preparado senti que toda a correria tinha valido a pena. Cicília estava de parabéns, afinal de contas, a ideia de tudo foi dela.

A verdade é que festa de um ano não é para a criança. É para a mãe. Mas dá para o pai aproveitar também. Mas é preciso se multiplicar, porque não dá para deixar a parte operacional da festa de lado.

Olá, seja bem vindo. Está precisando de alguma coisa? Cadê o animador? Pode sentar aqui. Olá quanto tempo. Precisa comprar mais alguma coisa? Obrigado. Arthur está com quem? Vai cantar parabéns que horas? Junta aqui para tirar uma foto.

Bom, não vou dizer que Arthur aproveitou toda a festa. Na medida do possível, divertiu-se. Sorriu, tirou foto, vestiu a fantasia. No fim, o mais legal foi exibir nosso lindo príncipe de olhos azuis. Tinha que me amostrar mesmo.

Após a festa, a sensação de felicidade e orgulho por termos passado por mais uma etapa. 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os preparativos da festa


Quando morei sozinho, depois de sair de Recife como retirante e vir para João Pessoa, pensei que havia conhecido a bagunça de uma casa. Até o dia que Cicília resolveu organizar o aniversário de um ano de Arthur.

Por volta dos seis meses começamos os preparativos. Quando ela me pediu sugestão de tema, pensei logo em Superman, Liga da Justiça, Cavaleiros do Zodíaco,... “meu filho, é aniversário de um ano”.

Se você é pai, e seu filho já fez um ano, deve saber. Caso contrário, vai descobrir. Por mais que a mãe queira inseri-lo nos preparativos da festa, tenha certeza de uma coisa: o aniversário não é seu. A festa não é do seu filho. No fim das contas, tudo é da mãe. O que acho até justo, afinal, não fui eu que passei nove meses com o menino na barriga.

E escolhemos (sugestão dela) Pequeno Príncipe. Já tinha lido a obra de Saint-Exupéry e gostei da ideia. Não ia ter super-herói, mas estava valendo.

E tome comprar coisa. Nesse período também descobri o quanto se gasta com festa do filho. E é muito viu. Sem contar que parte das coisas tivemos que comprar em Recife.

Às vésperas da festa, não sabia como tudo daria certo. Coisas para fazer, resolver e a casa parecia mais uma filial da Kelly Magazine, com bombons espalhados por todo lugar. Xaxá, Sete Belo, Embaré. E o pior: sem poder comer nada.

Mas quando o dia chegou e vi o salão pronto, percebi que não tinha como dar errado. Tudo estava preparado para o grande dia. Um ano do nosso pequeno príncipe.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Os primeiros passos


Enquanto o bebê não aprende a andar não há muito com que se preocupar. É só levantar a grade do berço que ele está seguro.

Contudo, esperava ansiosamente o dia em que Arthur iria sair engatinhando pela casa. Existe cena mais tchuquitchuqui do que essa? Difícil era convencê-lo disso.

É que Arthur simplesmente detestava ficar de barriga para baixo. Era instantâneo. Virou, chorou. Quando ele fez quatro meses colocamos pela primeira vez no andajá  (o menino era grande, ok?). Parecia que tínhamos descoberto uma invenção de sorriso automático. Ele adorava.

E eu também. O único risco era ele derrubar algum móvel quando abrisse na carreira. E de tanto usar o andajá, e odiar se deitar de barriga para baixo, pulou a fase de engatinhar.

“Venha, papai pega, venha”. E ele vinha. Todo desengonçado. Não conseguia dar mais que dois passos e tombava. Mas dava um. E isso era mais que suficiente para deixar orgulhoso. Afinal, era meu bebê crescendo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A primeira palavra


Mãe e filho possuem um vínculo inexplicável desde a concepção. Deve ser algo ligado àquela história de ter um bebê crescendo dentro da barriga, mexendo e depois mamando. O pai não tem isso. O vínculo precisa ser criado.

E pense que pai é um bicho besta. É como se, depois que Arthur nasceu, eu tivesse perdido a sanidade. Só isso para explicar o fato de me aproximar dele no berço, nos primeiros dias de vida e dizer: “repita comigo: papai. Paaaaa... pai”. Imagina se ele fala... Eu abria na carreira.

Mas quando se é pai, você não liga para essas amarras da sociedade que precisa taxar alguém de louco. E continuei. Só imaginava a sensação de felicidade ao fazer Arthur dizer a primeira palavra: “papai”.

“Toma aí, passasse nove meses com ele na barriga e ele falou papai”. Era uma luta diária, vários minutos na frente dele, falando e esperando. A resposta, porém, era sempre a mesma: silêncio.

Durante vários meses não tive retorno. Até que chegou o dia. Na sala, sentado, observava Arthur brincando, quando de repente ele inspira, olha para a frente, abre a boca e deixa escapar a primeira palavra da sua vida: “táxi”.

Tudo bem, não foi aquilo que eu esperava. Mas foi emocionante do mesmo jeito. Era nosso bebezinho crescendo.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O psssssss


Antes de Arthur nascer, lembro de ter visto uma reportagem em que o médico ensinava como “adestrar” os bebês. Acalmar os pequenos quando estivessem inconsoláveis. Porque não tem nada mais desesperador do que um bebê quando abre o berreiro. Se nascesse falando seria bem mais fácil. Mas não é assim.

Contudo, tudo na hora do aperreio é bem difícil. Olhava para Arthur e via o menino se esguelando, mudando de cor, do branco para o vermelho seguindo para o roxo. Não conseguia nem pensar direito. “Pega no braço”. Era a voz do médico no meu cérebro. Uma dica interessante.

Mas ele continuava em desespero. “Ai meu Deus e agora? O que faço com esse menino?”. “Encosta do peito”. E nada. “Tem que sacudir não é, meu filho!”. A voz estava ficando impaciente. E tome sacode. “ANDA!”.

E comecei a andar de um lado para o outro. Deve ter diminuído uns 20 decibéis. Mas o choro continuava. Neste momento lembrei de uma das técnicas mais tradicionais e eficientes da história em se tratando de acalentamento de bebês. Aquele que, ainda criança, ouvia minha avó fazer com os netos: o pssssssssssssssss.

Cerca de cinco segundos depois, o silêncio invadiu o ambiente. Um momento mágico. Único. Em que pela primeira vez consegui dominar o choro desesperado. E fiquei ali, curtindo o momento, mantendo a técnica.

Até perceber que Arthur estava em sono profundo. Totalmente relaxado em meus braços. Acabei me dando conta de que tinha dominado o fator “colocar para dormir”. Foi lindo.