segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O ônibus

Pense em um lugar frio. 9 graus ao meio dia. Tempo nublado com uma garoa insistente que deixava os ossos congelados. Roupa por todo o corpo. Tôca e luvas. Cachecol. Casaco. É o que uma pessoa normal usa. Eu e Cicília estávamos usando. Mas parecia que Arthur achava que frio era para os fracos.

Usava casaco na marra, sem nada na cabeça e sem luvas. Achando-se o próprio morador do Sul do país. Tudo bem que aparência tinha. Cabelos loiros, pele clara, olhos azuis. Até hoje não entendo como ele não sentia frio. Eu congelava só em olhar para o termômetro.

Mas, de novo, Arthur dificultou o passeio por conta do intestino um tanto desregulado. E tive que mostrar minhas habilidades para trocar fralda em mais um lugar inadequado: dentro do ônibus.

Quando dei início à atividade, percebi que as pessoas mais próximas sorriam e achavam bonitinho um pai ajudar no trabalho de limpeza da cria. Segui trabalhando.

No avião já tinha sido complicado por conta do espaço pequeno, mas dentro de um ônibus em movimento é muito pior. Sem estabilidade, eu tentava me segurar com as pernas nos bancos. Ao mesmo tempo ia tirando a fralda, vendo o tamanho do estrago e tentando imaginar o que fazer com o odor que ia tomando conta do coletivo.

Depois de uns bons solavancos e momentos de agonia, consegui trocar tudo. E, de novo, só então me toquei do que havia à nossa volta. O vazio. De repente, percebi que as cadeiras ao nosso redor estavam vagas e o fundo do ônibus parecia exercer algum tipo de atração sobre os outros passageiros.

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