terça-feira, 23 de julho de 2013

O cinema

A primeira ida ao teatro não deu tão certo, mas acreditava que talvez a Sétima Arte tivesse um efeito melhor. Afinal de contas era desenho com fadinha, tudo bonitinho. Foi então com o pensamento positivo que decidi levar Arthur para ver Tinkerbell e o Segredo das Fadas.

Sair de casa é sempre um processo trabalhoso. Menino almoçado? Ok! Sentado na cadeirinha? Ok! Roupa reserva? Ok! Fralda? Ok! Garrafa com água? Ok! Lanche? Ok! Fomos.

Com tanta coisa para pegar, fica um tanto inviável chegar antes da hora em qualquer compromisso. Depois de rodar todo o minúsculo estacionamento do Mag Shopping atrás de uma vaga, deixamos o carro e subimos.

Fila, espera, ingresso,... “Quer pipoca?”. “Quéio!”. Outra fila, outra espera, pipoca,... “Bora que vai começar”. “Quer ir no banheiro?”. “Quéio!”. Abre a calça, piloca para fora, faz xixi, sacode, guarda, descarga,... “Xau Xixi”.

Como estava cheio de coisa nas mãos, pedi para Arthur me acompanhar a pé. Fomos em direção à sala, ele atrás de mim. Peguei os óculos (sim, era 3D, brinque não), fui caminhando, meia luz, subindo a rampa... “Tu vai querer usar óculos Arthur?”. “Arthur?!”. O menino estava estancado lá na porta com medo de entrar naquela sala escura. Não quis de jeito nenhum. Voltei.

Imagino as pessoas quando me viram entrar: “Quem é esse coitado?”

Meus braços tinham: Arthur, pipoca, água, bolsa, ingresso, celular e óculos. Até hoje não sei como consegui. Fui até a cadeira indicada e foi outra luta. Ele não queria ficar no chão. Nem na cadeira, com medo dela dobrar com ele dentro. Fiz toda uma acrobacia para conseguir nos acomodar e não deixar nada cair.

Depois de uns cinco minutos, consegui. A luz apagou e iniciou o filme.

Ao contrário do que imaginei, ele aceitou colocar os óculos. E aproveitava tudo de pertinho. Fadinhas, coelhos, esquilos, corujas, folhas e não quis mais. Foram 10 minutos apenas. E passou a ver o filme todo embaçado.

Fora isso, tudo seguiu tranqüilo. Nos conformes. Bom, pelo menos até a pipoca acabar. Porque aí o negócio desandou. Ele começou a chorar. “Quéio ir pa casa”. “Hômi, deixe de resenha, fique quieto que tem o filme todinho ainda”. “Eu QUÉIO IR PA CASA”. Quem tem filho sabe. Nesses momentos bate O desespero. A vontade é enfiar a cabeça dele dentro do saco de pipoca para ver se não incomoda os outros. Mas ninguém faria isso.

Levantei, fui para a lateral da sala e fiquei no balanço... “psssss, psssss, psssss”. Depois de um tempo, dormiu e eu fiquei lá, vendo o filme. Em pé. Só após vários minutos consegui sentar. Com ele dormindo. E fiquei assim, até o final do filme. Que deve ter durado uns 7 ou 8 minutos.


Bom, pelo menos ele não teve medo de Tinkerbell. O que me deu esperanças de voltar para ver outro filme.

domingo, 21 de julho de 2013

A língua

Nem sempre é possível ensinar bons modos aos filhos. A gente tenta. Mas às vezes eles não querem aprender. E quando executam certa falta de educação na frente dos outros, os pais são logo acusados: “Esse menino tem mãe? Tem pai? Mal educado!”.

Já disse aqui que levo a sério a tal história do papel dos padrinhos para a criança. São segundos pais. Tanto podem contribuir para a educação quanto prejudicar.

Por exemplo: Tia Luedva sempre quis ensinar Arthur a estirar língua. Papai, Mamãe, Tia Sá e Tio Col nunca deixaram. Resultado: ele não adquiriu este hábito. Laís sim.

Por ser madrinha dela, Tia Évia tem mais poder de ação. E ensinou a menina a botar a língua para fora como se fosse a coisa mais linda do mundo. Confesso que ver uma criança fazer certas coisas EM CASA é bonitinho. Mas não pode virar costume, pois uma dia vai fazer na frente de uma visita, por exemplo.

Mas tudo isso foi só para contar a seguinte história:

Era mais um dia comum em casa. Acorda cedo, toma banho, dá banho nas crianças, prepara café, senta para comer e... lá vem Laís sentar no colo da mãe. Como sempre. Em dado momento, ela começa a estirar língua para todo lado. “Pare com isso. Guarde essa língua”. “UUUnnnnaaaa”. E tome mostrar. Agora mais especificamente para mim.

Juntei toda a seriedade que consegui naquele momento e disse: “Feche a boca senão vou cortar sua língua”. Ela olha no fundo dos meus olhos. Vejo algo que acho ser respeito. “Ela vai parar”, pensei.

De repente, ela abre um sorriso maroto e faz: “UUUUNNNNAAAA”. Aponta para mim e começa a rir de forma debochada. Dando gargalhadas.

E eu, já sem moral alguma, apenas esboço um sorriso e penso: “Luedva me paga”.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O primeiro jogo

A escolha do time de futebol envolve diversas variáveis. Mas por mais que haja influência, é algo que brota do fundo da alma. Coisa de amor, paixão e por aí vai. Um sentimento que cresce aos poucos e, de repente, não existem vários clubes. Existe o seu e os outros. Obviamente, o pai tenta passar isso para o filho. Fazer a mesma escolha.

Para quem gosta de futebol, não há nada mais mágico que aquele momento em que você passa a catraca e vê, de pertinho, o campo de jogo. Centenas, milhares de pessoas que parecem ser amigos de anos. Pelo simples de fato de torcerem pelo mesmo time. Oportunidade de cantar junto, vibrar junto, xingar junto e, claro, comemorar junto.

Queria que meus filhos sentissem isso. E planejei levar Arthur ao primeiro jogo quando completasse dois anos. Aquela coisa de já sentar, falar alguma coisa, saber que não estaria em um lugar qualquer, mas em um local sagrado.

Saímos de João Pessoa com destino ao Recife. Conosco, Cláudio Felipe. Arthur estava com roupa completa do Sport. Camisa, calção e meias. No caminho, dormiu a viagem toda. Acordou apenas quando estávamos na Av. Caxangá, já próximos à Ilha do Retiro.

Carro estacionado, copo com água, bolsa com fralda e biscoito, Arthur no braço e fomos em frente. Tirando o peso dele, que depois me fez passar dois dias com dores, a caminhada foi tranqüila. Já na porta do estádio, muita gente, ingresso na mão... Arthur olhava ao redor. “Pelo Sport Nada?...”

Entramos. Escolhemos um lugar folgado na arquibancada e ele ficou lá, sentadinho. Observava tudo. “O jogador caiu, papai”. “Cadê a bola, papai?”. “Muita gente né, papai?!”.

No segundo tempo, com Arthur um pouco impaciente, tive que ver o resto da partida em pé com ele no braço. Fomos para perto da charanga e gostou. Agitou os braços junto com os outros. Cantou. Até o final. E deixamos a nossa “casa” com a promessa de voltar muitas outras vezes.

No caminho de volta é que tivemos um “pequeno” imprevisto. Estávamos em Abreu e Lima, quando senti um certo odor característico. Não dava para continuar. Paramos em um posto de gasolina. Se trocar fralda dentro de umbanheiro de avião é difícil, imagine em um posto de gasolina em que TUDO é sujo. Até o ar.

Deitei Arthur no banco de trás do carro. Tinha a esperança de resolver o problema com o lenço umedecido. Tirei a fralda e... “Tá cá mulesta!”. Não dava. Raspei o que deu com a fralda e carreguei pro banheiro. Em pé, com ele no braço, jogava água, segurava, limpava, escorregava, segurava, molhava,... Até ficar tudo resolvido.

Mais um feito conquistado. Que depois, nem chegou perto de ser o acontecimento mais importante do dia.


Tudo porque foi nesse dia que, pela primeira vez, ouvimos e cantamos juntos o Cazá, Cazá na Ilha do Retiro. De longe, um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Aquele em que você sente que conseguiu completar o ciclo. Que passou a herança.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A fuga

Um bebê com três meses de vida não tem muita desenvoltura. Não consegue sentar, segura o pescoço com dificuldade, dificilmente rola na cama... então,  supõe-se que ao colocá-lo em um lugar, ele vai ficar. Correto? Se disse sim, não conhece Laís.

De férias, resolvemos passar o dia em Porto de Galinhas. Estávamos passeando, vendo artesanato, quando surgiu um convite. “Vai nesse Resort aqui, você conhece e ganha o almoço inteiramente grátis e sem pagar nada”. Fomos.

Depois de percorrer todas as dependências do hotel com uma mulher puxando conversa sobre planejamento de férias, que tipo de viagem gosta de fazer e etc, não compramos o plano que ela tinha para vender (sempre tem, né?) e fomos almoçar.

Cadeirinha especial para Arthur, Laís no bebê conforto no chão, ao lado da mesa, fomos comendo e conversando. Depois de certo tempo, assunto vai, vem, eis que o garçom olha para gente e diz: “Senhor, a menina está no chão”.

Olhei para baixo e vi Laís, toda faceira, deitada com a cabeça no chão, de barriga para cima, fora do bebê conforto, sorriso no rosto. Não acreditei. Como mulesta ela tinha feito isso? Tudo bem que estava sem cinto, mas como um bebê de três meses sai dali sem ajuda?

Pegamos, botamos de volta, devidamente presa com o cinto e ao olhar para a mesa o lado tivemos que ouvir o comentário de uma retardada: “Eu até tinha visto que ela estava no chão, mas achei que vocês tinham colocado de propósito”.

É, deve ser porque o chão estava frio.

Ah, em outra oportunidade, Cicília filmou a astúcia e o mistério foi desvendado: Clique aqui.