quarta-feira, 27 de junho de 2012

A descoberta


Com dois anos de casados, a ideia era se estabilizar financeiramente para só então ter um filho. E isso queria dizer um salário melhor, quitar o carro e dar entrada no apartamento. Mas quem faz os planos não somos nós. E em um único dia, tudo mudou.

Fui buscar Cicília no trabalho na hora do almoço como na maioria dos dias. No carro, enquanto estava dirigindo, ela olhou para mim. O rosto estava tenso, aparentava nervosismo, mas ao mesmo tempo disfarçava com uma calma impressionante. Tirou um papelzinho de dentro da bolsa e me entregou.

Lembro que tinha uma tinta azul e uns tracinhos. Pensei: “Legal, gosto de azul, e aí?” Perguntei o que era aquilo. E ela, já quase sem conseguir disfarçar o nervosismo, respondeu: “é um teste de gravidez”.

Não sei vocês, mas nunca tinha visto um, então para mim aquela tirinha de papel era grego. “E isso quer dizer o quê mesmo?”. Já sem disfarçar, com os olhos cheios de lágrima, ela disse: “tô mei grávida”.

Eu poderia dizer que um turbilhão de coisas passou pela minha cabeça, mas não é verdade. Simplesmente pensei: “será que esse negócio tá certo? Se estiver, o que faço agora?”. E não pense que a ficha foi caindo não.

Na verdade, tudo ficou em suspenso. Só então o tal turbilhão foi se formando.

E agora, como vai ser? Aviso a mainha? Quando vamos saber se é menino ou menina?  Esse negócio está certo mesmo? E agora, como vai ser? Compro o berço de que cor? E para subir as escadas? E agora, como vai ser? É para ir trabalhar hoje? Andréa vai gostar de ser tia? Quem vão ser os padrinhos? Preciso do meu play2! Se for menino vai querer jogar comigo? Se for menina pode? E agora, como vai ser?

E tudo isso foi resumido em uma pergunta: “Já pode espalhar?” Sou jornalista, não dá para receber uma bomba e guardar para si. O mundo precisa saber.

Mas Cicília queria a confirmação definitiva, que é aquele teste Beta. Aí a coisa ficou formal: laboratório, recolhe sangue, examina, testa, verifica e vem o veredicto: “a paciente está grávida com força”.

É que tem uma taxa lá que indica a gravidez e a dela estava bem alta. E aí sim, não dava para negar o fato.

De volta para o carro, com o semáforo fechado, nos abraçamos, nos beijamos, trocamos palavras de amor.  Um momento só nosso. O mundo parou. Menos o motorista do carro de trás que ficava buzinando.

Com tudo isso, a ficha caiu. Mas ela só trouxe uma certeza: que a partir daquele momento tudo seria diferente.

9 comentários:

  1. Acompanhado...
    Parabéns Eduardo pela maneira simples que escreve passando com verdade a emoção dos pequenos e grandes momentos da vida.
    Sucesso!!!

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  2. Que lindo!! Me emocionei e imaginei cada detalhe das cenas descritas! Cada dia meu orgulho por vc aumenta!
    Parabéns pelo blog, muito bom mesmo!!

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  3. E assim nasceu Arthur, o Príncipe! =D

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  4. Aiii...que lindo, Eduardo! Parabéns pelo relato!

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  5. Valeu pela força pessoal. Continuem voltando aqui rsrsrs

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  6. É exatamente essa a sensação Eduardo. Impossível não ficar emocionada. Parabéns pelo texto inaugural e pelo blog. Vou ficar por aqui! :)

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  7. Parabéns Edu! Adoro a maneira simples e cheia de sentimentos que vc fala dos seus pequenos e da díficil e maravilhosa arte de ser "pai/mãe".

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  8. Dá para imaginar vc dizendo: "Pode espalhar"! rsrs
    Muito bom o texto.

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