A mãe sente aquela azeitona crescer, enquanto que o pai se limita a
imaginar o que está acontecendo. As dúvidas continuam. Sobre tudo. E todo mundo
pergunta: “você prefere menino ou menina?”. Sei lá. Eu nunca fui pai. O que
vier está bom. E era verdade.
No processo de imaginação, você pensa nos momentos que pode viver tanto
com um quanto com o outro. Os futuros abraços, declarações de amor, conselhos e
até como você vai dar bronca. “Será que devo usar o milho também?”.
Passamos a viver uma fase de simpatias. De todos os tipos. Tia Lúcia
separou duas tesouras (uma aberta e outra fechada) e colocou em duas cadeiras
escondidas por almofadas. A ideia era Cicília, que não sabia onde cada tesoura
estava, escolher aleatoriamente e sentar.
De acordo com a teoria de tia Lúcia, se ela sentasse sobre a tesoura
fechada, seria menino; se fosse sobre a tesoura aberta, menina. E ela sentou
sobre a aberta.
Depois, o caso mais emblemático: o de Goretti, amiga de tia Tita. A
danada era conhecida por nunca, eu disse nunca, errar um palpite. O cálculo
dela, dizia, tinha base científica. Calculava a data da última menstruação, com
mês em que ocorreu a gravidez, somado à fase da lua, mais a distância da Terra
em relação a Vênus, dividido pelo valor da quilometragem do nosso carro na
época. Resumindo: complicado.
E depois de uma semana de cálculos e recálculos, ela garantiu: compre a
tinta rosa. Depois de tantas “certezas” não havia como não iniciar o processo
de escolha do nome para uma menina. Eu só pedia uma coisa: para esperarmos pela
ultrassom. E chegou o dia:
Lá estava eu novamente sentado na cadeira atrás do homem-de-branco-que-não-sei-é-médico,
naquele computador esquisito com a televisão nas minhas costas. E começa o
processo. Não sei se ele havia sido treinado para isso, mas o cara gostava de torturar.
Diga-me: o que custa dizer logo o sexo do bebê, se é só o que você quer saber
nessa hora?
Mas não. Ele preferiu mostrar braço, tamanho da cabeça, pé, boca, cor
dos olhos e nada. Depois do que pareceu uma eternidade, ele pergunta: “Já sabe
o sexo do bebê?” Você tem vontade de dizer muitas coisas, mas por não serem tão
agradáveis, basta uma frase: “não, doutor. O senhor poderia nos dizer?”
Aí começa o show (dele): “Vamos ver se o bebê colabora. Está difícil. A
perna está fechada. Espera um pouco. Está quase. Eita, perdi. De novo. Acho que
agora vai dar para ver. Tenho um palpite, deixa só confirmar. Pronto. Está
aqui. Olha só”.
Era para eu estar vendo alguma
coisa? Porque é que eles acham que todo mundo consegue enxergar algo naquele
negócio preto com cinza? Não vi nada. E ele então fala: “Aqui”. E eu na mesma. “É
um menino, olha aqui”.
E a gente soube naquele momento que simpatias não eram tão confiáveis.
Um menino. Ali estava Arthur Henrique.
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