segunda-feira, 18 de abril de 2016

O jogo do Brasil

Recife, 1994. Com mainha viajando e painho doente dentro do quarto chamando por ela, vi a final da Copa sozinho na sala. Na hora dos pênaltis, de joelhos, rezava pelo título. Que veio. Desci do apartamento, dei volta olímpica e voltei pra casa. Aos 12 anos, só conseguia imaginar como seria ver um jogo de Copa do Mundo na arquibancada.

João Pessoa, 2014. Brasil e Chile decidiam a vaga na decisão por pênaltis. Com ingresso comprado para a fase seguinte, em Fortaleza, rezava para o time de Felipão passar. Tudo para que eu e Arthur pudéssemos ver o Brasil de perto. Deu certo.

Depois de sair de João Pessoa, dormir em Mossoró e chegar em Fortaleza, já era possível viver o clima do jogo dentro do shopping onde havíamos deixado o carro. Arthur era só encantamento. Olhava tudo com brilho nos olhos. Torcedores, bandeiras, cânticos... E eu sabia o que era aquilo. A alegria que imaginava que sentiria aos 12 anos, conseguia viver pelos olhos dele.

Já nos arredores do estádio, a emoção era enorme. A atmosfera de uma Copa do Mundo é diferente. E Arthur olhava tudo e todos com alegria. Tirou foto na frente do Castelão, com torcedores rivais, enfim... Aproveitou.

Cicília, que inicialmente não iria ao jogo, acabou indo. Demos um 'pitu' na Fifa. Entrei com Arthur no braço (sim, aos 4 anos se paga ingresso em Copa. Aliás, saiu do bucho já paga) e repassei o ingresso pra ela. Todos felizes, ficamos atrás de um dos gols.

O calor fazia parte do Castelão. Arthur cantava, gritava... Como já havia aprendido nos jogos do Sport. Ficou de pé na hora do hino, cantou com o coração. Durante a partida, ajudou a empurrar o Brasil. E eu vivia e revivia tudo ao mesmo tempo. Estava ali também pela primeira vez. Porém, através dele, revivia aquela inocência da infância.

Nos abraçamos, com os gols do Brasil. Reclamamos quando a Colômbia fez um. Reclamamos de novo, quando Neymar levou uma pancada nas costas e saiu de maca. Xingamos. E lamentamos.

Ao fim da partida, comemoramos a classificação para as semifinais. Na conversa pós-jogo, já dentro do ônibus, lamentamos mais uma vez que Neymar estivesse machucado. Mas a confiança era grande em mais um título do Brasil. Que a partir dali, voltaríamos a acompanhar pela TV. Com a consciência de que nosso dever tinha sido cumprido.


Ele deve ter saído imaginando quando viveria aquilo novamente. Eu, já com a maturidade da vida adulta, sei que é difícil estar em outro jogo de Copa do Mundo. Por outro lado, aprendi por experiência própria que não se duvida da inocência de uma criança. 

domingo, 10 de abril de 2016

A tabela de comportamento

Depois que a pessoa tem filho, aos poucos desenvolve técnicas de psicologia. Nem todas funcionam, é verdade. Mas errando uma vez aqui, outra ali, dando um grito de escorrer lágrima na criança aqui, uma ameaça de chinelada ali, você vai moldando seu filho e suas reações. E se tem uma coisa que existe nesse mundo é técnica para adestrar criança (alguns falam em educar, mas dá no mesmo).

E uma bem conhecida é aquela de fazer um cartaz, pendurar na parede e marcar com um X as coisas boas ou erradas e depois ter um castigo ou um prêmio. Pois bem. Cicília criou uma tabela no papel, bem bonitinha e organizada. Uma azul para Arthur e uma amarela para Laís.

Funcionava assim: cada desobediência (deixar bagunça, não arrumar a cama, não tomar banho e etc) gerava um X. O objetivo era claro: deixar o papel limpo.

Arthur virou uma “seda”. Passou a fazer as coisas e quando ameaçava fazer birra, bastava pegar a caneta que ele batia pino e fazia o que tinha que ser feito. Já Laís...

Como sempre fazia, ela espalhou brinquedos por todos os lados da sala. Na hora de arrumar, “bateu uma canseira”. Dizia que não conseguia fazer nada. Nem andar. Cicília então ameaçou marcar um X na tabela. E ela não queria ganhar a marquinha negativa. Então tomou uma atitude:

Foi atrás da tabela, escondeu no banheiro dela, voltou para a sala e continuou com a bagunça. A lógica: se a mãe não encontrasse, não poderia marcar o X e ela não seria castigada.

Admito que a construção da ideia foi genial. Só que Laís não contava com nossa astúcia. Nós tínhamos uma carta na manga: “SE VOCÊ NÃO GUARDAR ESTA BAGUNÇA AGORA, VAI TUDO PRO LIXO. JÁ PEGUEI O SACO PRA COLOCAR”.

Bem mais eficaz, diga-se de passagem. Em meio a reclamação e choro, os brinquedos foram guardados. Objetivo alcançado.

#aprendesupernanny

domingo, 3 de abril de 2016

Astúcias no Infantil I

Quem nunca aprontou na escola? Faz parte do ser humano (eu acho). Confesso que minha mãe foi chamada algumas vezes para conversar com coordenadores e professores sobre o que acontecia no colégio. Por outro lado, isso não chegou a acontecer quando tinha apenas 3 anos. Como Laís.

Costumava pegar os meninos na Lourdinas assim que saía da TV. Normalmente encontrava com Tia Marta, a professora do Infantil I. E teve uma semana específica que foi “animada”. Na segunda-feira, ao chegar para buscar Arthur e Laís, ela me viu e chamou:

“Laís aprontou uma hoje, viu... Os amiguinhos prepararam a tela (uma pintura que eles fazem no fim de ano pra gente encher a parede de quadros) e colocaram para secar. Pois de repente, quando olho, chega uma coleguinha reclamando que Laís tinha pintado a toalhinha do lanche dela. Conversei com Laís. Fomos ao parque e, quando voltamos, vejo Laís com o pincel cheio de tinta em direção à tela da amiga. Por pouco ela não fez um desmantelo”.

Naturalmente, reclamei com Laís. Isso não se faz. No dia seguinte, mais uma vez encontro com Tia Marta. “E aí, foi tranquilo hoje?”. – Não exatamente.

“Laís pediu pra ir ao banheiro e, quando a auxiliar viu, ela tinha baixado as calças e estava fazendo xixi no balde de lixo”. Na hora, confesso que achei engraçado. Mas coloquei minha cara de sério e segurei.

Bom, antes que me julguem, dias depois descobri uma outra versão. Laís estava bem apertada e os boxes estavam todos ocupados. Para não fazer no chão, ela fez no lixo. Então, na verdade foi uma boa ação ;)

Achei que para uma semana já estava de bom tamanho, mas no dia seguinte...

“Quatro meninas pediram para ir ao banheiro e a auxiliar as levou. Deixou todas lá e voltou pra pegar os meninos que também queriam ir. Ao retornar, não viu as meninas. Voltou pra sala e nada. Começamos a procurar, quando fomos ao banheiro, escutamos as risadinhas e os ‘pssssiiiuu’. Elas tinham entrado no mesmo boxe e estavam escondidas da tia. Uma delas era Laís”.

Desta vez, gargalhei sem remorso. A astúcia das meninas valia ao menos ser reconhecida.


Depois de três dias seguidos, admito que estava com medo. Tinha receio de ouvir mais reclamação. Porém, o restante da semana (a quinta e a sexta rsrsrs) passaram sem que eu ouvisse mais nada dela. Talvez tenha tido algo a ver com o fato de eu ter chegado mais tarde para não encontrar com Tia Marta. Mas essa é uma dúvida que nunca vamos tirar.