Recife, 1994. Com mainha viajando e painho doente dentro do
quarto chamando por ela, vi a final da Copa sozinho na sala. Na hora dos
pênaltis, de joelhos, rezava pelo título. Que veio. Desci do apartamento, dei
volta olímpica e voltei pra casa. Aos 12 anos, só conseguia imaginar como seria
ver um jogo de Copa do Mundo na arquibancada.
João Pessoa, 2014. Brasil e Chile decidiam a vaga na decisão
por pênaltis. Com ingresso comprado para a fase seguinte, em Fortaleza, rezava
para o time de Felipão passar. Tudo para que eu e Arthur pudéssemos ver o
Brasil de perto. Deu certo.
Depois de sair de João Pessoa, dormir em Mossoró e chegar em
Fortaleza, já era possível viver o clima do jogo dentro do shopping onde havíamos
deixado o carro. Arthur era só encantamento. Olhava tudo com brilho nos olhos.
Torcedores, bandeiras, cânticos... E eu sabia o que era aquilo. A alegria que imaginava
que sentiria aos 12 anos, conseguia viver pelos olhos dele.
Já nos arredores do estádio, a emoção era enorme. A atmosfera de uma Copa do Mundo é diferente. E Arthur olhava tudo e todos com alegria. Tirou foto na frente do Castelão, com torcedores rivais, enfim... Aproveitou.
Cicília, que inicialmente não iria ao jogo, acabou indo.
Demos um 'pitu' na Fifa. Entrei com Arthur no braço (sim, aos 4 anos se paga
ingresso em Copa. Aliás, saiu do bucho já paga) e repassei o ingresso pra ela.
Todos felizes, ficamos atrás de um dos gols.
O calor fazia parte do Castelão. Arthur cantava, gritava...
Como já havia aprendido nos jogos do Sport. Ficou de pé na hora do hino, cantou
com o coração. Durante a partida, ajudou a empurrar o Brasil. E eu vivia e
revivia tudo ao mesmo tempo. Estava ali também pela primeira vez. Porém, através
dele, revivia aquela inocência da infância.
Nos abraçamos, com os gols do Brasil. Reclamamos quando a
Colômbia fez um. Reclamamos de novo, quando Neymar levou uma pancada nas costas
e saiu de maca. Xingamos. E lamentamos.
Ao fim da partida, comemoramos a classificação para as
semifinais. Na conversa pós-jogo, já dentro do ônibus, lamentamos mais uma vez
que Neymar estivesse machucado. Mas a confiança era grande em mais um título do
Brasil. Que a partir dali, voltaríamos a acompanhar pela TV. Com a
consciência de que nosso dever tinha sido cumprido.
Ele deve ter saído imaginando quando viveria aquilo
novamente. Eu, já com a maturidade da vida adulta, sei que é difícil estar em
outro jogo de Copa do Mundo. Por outro lado, aprendi por experiência própria
que não se duvida da inocência de uma criança.