terça-feira, 6 de maio de 2014

A Vacina Dupla

Se você nunca levou dois filhos para tomar vacina, não sabe o que é desespero... Tive a ideia nada brilhante de aproveitar o momento de levar para o colégio para economizar tempo. E quando estacionei o carro já senti o drama: “EU NÃO QUERO TOMAR VACINA”. Arthur já conhecia o Lactário da Torre e sabia que dali só sairia seringa e agulha. Portanto, já desceu chorando.

Laís, inocente, estava dormindo tranquilamente. Sem saber o que a esperava. Entramos, peguei uma ficha, dei o nome de ambos, as vacinas que iriam tomar e mandaram esperar. “Senta aqui, Arthur...”; “EU QUERO IR EMBORA, EU NÃO QUERO TOMAR VACINA!”. Porque criança acha que a gente é surdo?? Eu ouviria se ele falasse mais baixo... Nessas horas você fica meio sem saber o que fazer. Mas como estava no meio de uma ruma de gente com filho, tentei não ligar.

“EU QUERO IR PRO COLÉGIO!”. Na hora de me aproximar da sala da vacina, ele não quis ir. “Vem Arthur”; “Venha pra cá”; “É só pra esperar”; “Arthur... Venha... Agora!”; E por fim entre dentes: “Arthur Henrique, venha pra cá agora”. Ele veio. E Laís dormia.

Quando entramos na sala, a coisa ficou feia. Era preciso segurar Arthur para que a vacina fosse aplicada. Mas ao mesmo tempo, Laís continuava dormindo. “Segura aqui, moça, por favor”. Entreguei a menina, peguei o menino, prendi e falei: “Dá o gás!”. Pronto. Pense numa injeção trabalhosa. Arthur chorava. Desesperadamente. E ainda tinha outra. “Vira o lado”. “EU NÃO QUERO NÃO... NÃÃÃÃÃÃOOOO”. Levou. Pronto. Foi se acalmando.

Laís ainda dormia. “Ela tem que estar acordada”. Comecei a sacudir. Já tinha chegado tão longe, não iria desistir agora. Então ela acordou meio sem saber onde estava, qual a situação, e de repente... “AAAAHHHHHHHHHH”. E, de novo, o choro tomou conta do lugar. Já aproveitei o embalo, virei o lado e mandei dar logo pra terminar o mais rápido possível.

Por fim, quando estava tudo resolvido... “Cadê o caderninho de vacina de Arthur?”; “Eita, acho que entreguei pra outra mulher... vou lá”. Tive vontade de esganá-la. Depois de uns cinco minutos, ela volta. “Não achei. E agora?”. “E agora tu vai parir o caderninho com todas as vacinas que ele já tomou”. Mas o livrinho estava dentro da sala o tempo todo. Tive vontade de esganá-la de novo. Mas saí.

Só quando coloquei os dois no carro (depois de prometer várias vezes que não levaria mais Arthur para tomar vacina... menti mesmo) foi que finalmente relaxei. E fomos embora, finalmente, para o Lourdinas.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Contemplação

Às vezes é no silêncio da noite que se observa os filhos. Quantas vezes me peguei parado em frente a eles... Apenas olhando a respiração. Se estavam “ok”. Em Camboinha, Arthur ficava em um colchão ao lado da cama. Laís no berço, do outro lado. Responsável pelo “plantão noturno”, era eu quem dava o mingau e colocava os pijamas.

Uma espécie de ritual. 210ml de água do filtro na mamadeira. 25 segundos no forno microondas. Sete medidas de leite ninho 1+. Duas medidas de massa (Mucilon+Farinha Láctea). Tampava, sacudia e estava pronto.

Colocar o pijama era coisa de ninja. O mínimo de barulho possível para não acordar ninguém. Levantava a cabeça de Laís, empurrava a camisa pela cabeça, puxava e colocava a mamadeira na boca. Enquanto ela bebia, ainda dormindo, trocava a fralda e colocava a calça. E esperava terminar.

Nesse momento, eu encostava no berço e observava. “Como é linda”. “Que traços perfeitos”. Sentia que o mundo poderia cair na minha cabeça. Mas ela não seria sequer tocada pela poeira. O sentimento que surgia no peito crescia de forma impressionante. Tudo por ela. Qualquer coisa para ver um sorriso. A felicidade naqueles olhos. E lembrava do abraço apertado ao chegar no colégio para buscá-la. “Até quando ela não sentirá vergonha dos amigos e vai me abraçar assim?”.

Pegava a mamadeira, já seca, e seguia para vestir Arthur.

Sabia que o sono dele era mais pesado. Mas isso não queria dizer menos cuidado. Calça, camisa... Ele sequer esboçava que iria acordar. E eu parava. Apenas observando. Quanta inocência naquele ser. Olhava para ele e me via. Uma extensão de mim. O que quer que acontecesse, eu seguiria neste mundo. De alguma forma. E me perguntava se algum dia ele iria ter vergonha de dizer: “eu amo você para sempre!”.

Para falar a verdade, eu já sabia que eles cresceriam. Talvez ficassem rebeldes. Talvez não quisessem mais ser abraçados e beijados em público. Talvez não quisessem dizer “eu te amo”. Talvez.

O fato é que eu tinha uma certeza. A lembrança daquelas respirações. Daqueles suspiros. Daqueles momentos em que não passavam de criaturas frágeis e dependentes de mim. E que eu sentia que tinha a força necessária para protegê-los.

Porque era neste momento que minhas dúvidas iam embora. A resposta estava ali. Nos dois presentes que tinha recebido. De Deus. E eu não fazia ideia de como agradecer.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Antes das aulas

Não sei no meu tempo, mas hoje em dia existe um processo entre o pagamento da matrícula e o início das aulas propriamente dito. Passada a fase de escolher o colégio (Lourdinas), passamos por uma entrevista com a psicóloga e depois uma reunião de pais e mestres. O objetivo é deixar papais e mamães de primeira viagem um pouco mais tranquilos. Ou mesmo aqueles que já tenham experiência, lembrar o que se deve e o que não se deve fazer.

“Deixa a criança levar a bolsa”; “fala sempre bem da escola”; “a agenda é nosso meio de comunicação”. São frases que todas as tias dizem. Além daquela que mais ouvimos: “olhem o blog do colégio, pois poderão acompanhar tudo que seus filhos fizerem”. Devo confessar que se esse acompanhamento dependesse do tal blog, acreditaria que os meninos não fazem nada no colégio.

Mas é nessa reunião que descobrimos também quem será a professora. Com Arthur tivemos a felicidade de ganhar Tia Ju no primeiro ano. Ao ouvir o nome dela, minha primeira preocupação foi prestar atenção na reação dos pais que já eram “veteranos” no colégio. Todas positivas. Senti confiança.

Já no ano seguinte, tivemos uma experiência diferente com a entrada da Laís. Em tese, o mesmo processo. E como seria dividido por turmas, eu fui conhecer a tia de Arthur e Cicília foi para a sala em que estaria a tia de Laís. Conheci Tia Mônica. Tia Ju, que havíamos gostado tanto, tinha ficado para trás.

Entre as principais diferenças em relação ao ano anterior, era que no Infantil II Arthur receberia bem mais tarefas e iriam escrever na agenda. Orientado por Cicília, levantei uma questão que por pouco não causa uma guerra. A quantidade de doces que os meninos ganham na escola. É muito! Toda data comemorativa é porcaria: bombom, pirulito, chiclete e etc. A maioria dos pais foram contra mim. Alguns me apoiaram (dois, para ser justo...). As tias foram contra. Alegaram que era apenas em eventos especiais. De cara ela contou quase 15. Voto vencido, reunião terminada, fui para a sala do Maternal.

Engraçado como o perfil do assunto muda. Óbvio. Seriam crianças de dois anos, que mal falavam, usavam fralda e eram dependentes dos pais. O papo, claro, girou em torno do choro no primeiro dia de aula. “É normal a criança chorar. Vocês podem ficar um tempinho a mais na primeira semana”; “Deixem trazer brinquedos”; “Pode deixar a chupeta”; E a lista seguia, sempre dando dicas para que a adaptação acontecesse sem traumas.

Até que Cicília perguntou: “e se a criança se adaptar bem? Eu posso só deixar e sair?”. Todos olharam com cara de incredulidade. Até as tias. Como se dissessem: “pronto, chegou a que quer ter a filha independente...”. Mesmo demonstrando todo o descrédito que possuíam, responderam: “se ela estiver bem, pode deixar sim”.

E devo dizer que no primeiro dia, deixamos a bolsa na sala e bastou Laís chegar no parque para vermos que não havia motivos para ficar. Está aí o vídeo que não me deixa mentir.


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A entrevista de Laís

A situação era tensa. Um ano antes estávamos na mesma sala com Arthur. Era um bate-papo, uma entrevista, com a psicóloga do Lourdinas para nos conhecer e também o futuro aluno do colégio. Calmo que só ele, sabíamos que não haveria problema. Confesso que a expectativa não era a mesma desta vez. Afinal, era Laís quem estava sendo avaliada.

Antes de irmos para a tal reunião, conversava com Cicília, que temia que a menina não fosse aprovada. Sugeri um calmante para ela chegar dormindo e só descobrirem a “peça” quando chegasse o primeiro dia de aula. O único risco era Tia Ludmila ser demitida por colocar o Taz dentro do colégio. Pouco confiantes, fomos.

Entramos na sala, eu com ela no braço, sentei. Coloquei-a do meu lado, em outra cadeira. Laís sentou como uma lady. Séria, apoiou os braços na mesa e esperou. Olhava de um para o outro. “Nossa, é uma princesinha. Uma moça. Olha como é comportada”. Eu e Cicília apenas nos olhávamos. Desconfiados.

Tia Ludmila fez algumas perguntas... se era comportada (MUITO!), se falava (pouco), se o irmão tinha ciúmes, como era a relação dos dois, se era muito agitada (Nada!). E Laís lá: um anjo de candura. Mal se mexia. Continuava encostada na mesa. O único movimento foi para abrir a bolsa de mão dela e tirar a mamadeira. “Nossa, de bolsa? Que coisa mais linda. É uma princesa mesmo”.

Chegou a ser pega no braço pela tia e sempre lá: quieta. Comportada.

Depois de alguns minutos de conversa, recebemos o papel com a aprovação. Antes que algo acontecesse, corri para a secretaria e peguei a lista de documentos a entregar e fomos embora. Com a certeza de que o colégio receberia dali a pouco mais de um mês, uma criaturinha como essa do vídeo aí embaixo:

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O primeiro dia de aula

Certos momentos marcam a vida dos pais por serem, digamos, emblemáticos. São dias que ficam gravados na memória para o resto da vida. O primeiro dia de aula é um deles. Antes, porém, de deixá-lo na escola, tive que passar por uma maratona. E tudo começou com a escolha do colégio.

Um dos itens que você analisa de cara, claro, é a mensalidade. Não é mole pagar um colégio para uma criança de 3 anos que há algum tempo atrás valia uma faculdade. Passado esse impacto, percebe-se que o colégio em que você estudou tem grande influência. Por exemplo: se morasse em Recife, colocaria no Visão. Mas em João Pessoa, ouvi Cicília. E fomos no Lourdinas.

Colégio tradicional da cidade, de freira, que no passado não tão distante só aceitava meninas. Achamos interessante a parte religiosa e cidadã do local. Passamos por entrevista, compra de material escolar e finalmente chegou o dia de levar Arthur para o primeiro dia de aula.

Em uma reunião realizada uma semana antes do início das aulas, as tias fizeram um baita medo sobre o período de adaptação. “Deixa ele trazer a mochila sozinho”; “não fica muito tempo”; “chorar é normal”; “com o tempo se acostuma”; “se quiser pode ficar na primeira semana”. Eu só imaginava Arthur chorando desesperadamente aos berros: “NÃO ME DEIXA!!”.

Saí da tv, almocei, preparei a câmera e começamos. Era preciso registrar. “Pega a bolsa”; “vai saindo”; “dá tchau”. Depois da sessão de fotos, fomos para o colégio.

Entendi o que as tias disseram. Tem criança que realmente parece estar indo pra forca. E olhe que ela nem imagina o que está reservado para o futuro (aulas de Química e Matemática, por exemplo, que causaram traumas na minha vida). No meio do chororô, da correria e dos gritos, encontramos Tia Ju, a primeira professora de Arthur.

Meio receoso, ele não quis largar a mão. Olhava tudo apreensivo. Sentia que ia ficar sozinho. Em um lugar estranho. Com pessoas estranhas. Pela primeira vez na vida. Com o coração apertando cada vez mais, brincamos com ele, mas sem esquecer que o momento se aproximava. “Qual seria a reação dele? Vai ficar bem?”. E a tia chamou pra sala.

Aos poucos, os amiguinhos sentavam nas cadeiras. Outros pais na mesma situação que nós. Decidimos que era hora de sair. Ele ainda meio ressabiado. Como faríamos?? Em meio a nossas dúvidas, Tia Ju apareceu com um pote de massa de modelar. Bastou.


Arthur sentou, pegou a massa, começou a brincar e esqueceu que estávamos ali. “Tchau, Arthur”. A resposta foi um breve aceno com a mão para não tirar a atenção da massa de modelar. Trocados por uma massinha, fomos embora. Ainda assim, felizes, por cumprir mais uma etapa da vida dele.