quarta-feira, 2 de abril de 2014

Contemplação

Às vezes é no silêncio da noite que se observa os filhos. Quantas vezes me peguei parado em frente a eles... Apenas olhando a respiração. Se estavam “ok”. Em Camboinha, Arthur ficava em um colchão ao lado da cama. Laís no berço, do outro lado. Responsável pelo “plantão noturno”, era eu quem dava o mingau e colocava os pijamas.

Uma espécie de ritual. 210ml de água do filtro na mamadeira. 25 segundos no forno microondas. Sete medidas de leite ninho 1+. Duas medidas de massa (Mucilon+Farinha Láctea). Tampava, sacudia e estava pronto.

Colocar o pijama era coisa de ninja. O mínimo de barulho possível para não acordar ninguém. Levantava a cabeça de Laís, empurrava a camisa pela cabeça, puxava e colocava a mamadeira na boca. Enquanto ela bebia, ainda dormindo, trocava a fralda e colocava a calça. E esperava terminar.

Nesse momento, eu encostava no berço e observava. “Como é linda”. “Que traços perfeitos”. Sentia que o mundo poderia cair na minha cabeça. Mas ela não seria sequer tocada pela poeira. O sentimento que surgia no peito crescia de forma impressionante. Tudo por ela. Qualquer coisa para ver um sorriso. A felicidade naqueles olhos. E lembrava do abraço apertado ao chegar no colégio para buscá-la. “Até quando ela não sentirá vergonha dos amigos e vai me abraçar assim?”.

Pegava a mamadeira, já seca, e seguia para vestir Arthur.

Sabia que o sono dele era mais pesado. Mas isso não queria dizer menos cuidado. Calça, camisa... Ele sequer esboçava que iria acordar. E eu parava. Apenas observando. Quanta inocência naquele ser. Olhava para ele e me via. Uma extensão de mim. O que quer que acontecesse, eu seguiria neste mundo. De alguma forma. E me perguntava se algum dia ele iria ter vergonha de dizer: “eu amo você para sempre!”.

Para falar a verdade, eu já sabia que eles cresceriam. Talvez ficassem rebeldes. Talvez não quisessem mais ser abraçados e beijados em público. Talvez não quisessem dizer “eu te amo”. Talvez.

O fato é que eu tinha uma certeza. A lembrança daquelas respirações. Daqueles suspiros. Daqueles momentos em que não passavam de criaturas frágeis e dependentes de mim. E que eu sentia que tinha a força necessária para protegê-los.

Porque era neste momento que minhas dúvidas iam embora. A resposta estava ali. Nos dois presentes que tinha recebido. De Deus. E eu não fazia ideia de como agradecer.

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