quinta-feira, 28 de junho de 2012

É de verdade

Depois que você descobre a gravidez, acontece uma coisa engraçada: não acontece nada. Aquele embrião está apenas no começo da formação e você não sabe bem o que vai sair dali. E a grande questão do universo é: O que se faz agora?

O que mais passava pela minha cabeça era se eu combinava mais com um menino ou uma menina.

“Se for menino, a gente vai jogar futebol na praia, video game, assistir a jogos na arquibancada. Ah, tem a coleção de times de futebol de botão. Dá pra fazer até cerimônia de entrega”.

“Mas uma menina é mais meiga, carinhosa. E eu posso brincar de boneca. Porque não? Video game também. Será que ela vai pintar meus times de futebol de botão de rosa?”

Para o pai começa um caminho complicado. Aos poucos, fui percebendo que não era mais o
protagonista da casa. A grande diferença em relação à mãe é que ela sente tudo. Enjôo, peito incha, dá sono. Ok, deve ter coisa legal também. O que sei é que entrei em um processo em que eu era, mas não era. Assim:

Eu ia ser pai. Mas de quê? Daquela azeitona na barriga dela?

É mais ou menos assim: você sabe que aquilo é muito bom. Você vai amar aquele ser. Mas a verdade é que não estava inserido.

Contudo, tem um momento que é mágico. Até para o pai. Principalmente para o pai. É quando você sabe que é de verdade: na primeira ultrassom.

Ao entrar na sala, fiquei meio sem saber o que fazer. Nunca tinha nem visto um aparelho de ultrassom. De repente está um homem vestido de branco, que não sei nem se é médico, sentado na frente de um computador que tem um mouse esquisito e uma bolinha daquelas de desodorante rolón no meio. “Vixe! Como é isso hein!?”.

A assistente me indicou uma cadeira e eu sentei. Fiquei de frente para o computador e de costas para a televisão (é, tem uma lá dentro e é tipo Net). Levanta o vestido, pendura papel toalha na esposa, gel na barriga e começa a passar o tal mouse. Procura um pouco e, de repente, a mágica acontece:

Uma batida rápida, acelerada, o médico aponta e diz: aqui é o coração. “E essa carreira toda do coração é assim mesmo?”. É. E você vai ter que esperar bastante para escutar algo mais tocante do que isso. E não importa quantos filhos tenha.

É neste momento que Deus toca seu ombro e diz: “Eu existo”. Não dá mais para duvidar.

2 comentários:

  1. O bom é que agora vc vai poder ter os dois né: A cerimônia de entrega do futebol e botão e Laís pintando eles de rosa! kkkkkkk
    Tu devia colocar mais um de post por dia...eu já to na curiosidade pra saber qual será o próximo!

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  2. Belo texto, Eduardo! Seus filhos, algum dia, vão gostar bastante ao lerem tudo isso. Uma frase, em especial, me tocou: "É neste momento que Deus toca seu ombro e diz: “Eu existo”. Não dá mais para duvidar.".

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