Às vezes é no silêncio da noite
que se observa os filhos. Quantas vezes me peguei parado em frente a
eles... Apenas olhando a respiração. Se estavam “ok”. Em Camboinha, Arthur ficava em um colchão ao lado da cama. Laís
no berço, do outro lado. Responsável pelo “plantão noturno”, era eu quem dava o
mingau e colocava os pijamas.
Uma espécie de ritual. 210ml de
água do filtro na mamadeira. 25 segundos no forno microondas. Sete medidas de
leite ninho 1+. Duas medidas de massa (Mucilon+Farinha Láctea). Tampava, sacudia
e estava pronto.
Colocar o pijama era coisa de
ninja. O mínimo de barulho possível para não acordar ninguém. Levantava a
cabeça de Laís, empurrava a camisa pela cabeça, puxava e colocava a mamadeira
na boca. Enquanto ela bebia, ainda dormindo, trocava a fralda e colocava a
calça. E esperava terminar.
Nesse momento, eu encostava no
berço e observava. “Como é linda”. “Que traços perfeitos”. Sentia que o mundo
poderia cair na minha cabeça. Mas ela não seria sequer tocada pela poeira. O sentimento
que surgia no peito crescia de forma impressionante. Tudo por ela. Qualquer
coisa para ver um sorriso. A felicidade naqueles olhos. E lembrava do abraço
apertado ao chegar no colégio para buscá-la. “Até quando ela não sentirá
vergonha dos amigos e vai me abraçar assim?”.
Pegava a mamadeira, já seca, e
seguia para vestir Arthur.
Sabia que o sono dele era mais
pesado. Mas isso não queria dizer menos cuidado. Calça, camisa... Ele sequer esboçava
que iria acordar. E eu parava. Apenas observando. Quanta inocência naquele ser.
Olhava para ele e me via. Uma extensão de mim. O que quer que acontecesse, eu seguiria
neste mundo. De alguma forma. E me perguntava se algum dia ele iria ter
vergonha de dizer: “eu amo você para sempre!”.
Para falar a verdade, eu já sabia
que eles cresceriam. Talvez ficassem rebeldes. Talvez não quisessem mais ser
abraçados e beijados em público. Talvez não quisessem dizer “eu te amo”.
Talvez.
O fato é que eu tinha uma
certeza. A lembrança daquelas respirações. Daqueles suspiros. Daqueles momentos
em que não passavam de criaturas frágeis e dependentes de mim. E que eu sentia
que tinha a força necessária para protegê-los.