A situação era tensa. Um ano antes estávamos na mesma sala
com Arthur. Era um bate-papo, uma entrevista, com a psicóloga do Lourdinas para
nos conhecer e também o futuro aluno do colégio. Calmo que só ele, sabíamos que
não haveria problema. Confesso que a expectativa não era a mesma desta vez.
Afinal, era Laís quem estava sendo avaliada.
Antes de irmos para a tal reunião, conversava com Cicília,
que temia que a menina não fosse aprovada. Sugeri um calmante para ela chegar
dormindo e só descobrirem a “peça” quando chegasse o primeiro dia de aula. O
único risco era Tia Ludmila ser demitida por colocar o Taz dentro do colégio.
Pouco confiantes, fomos.
Entramos na sala, eu com ela no braço, sentei. Coloquei-a do
meu lado, em outra cadeira. Laís sentou como uma lady. Séria, apoiou os braços na mesa e esperou. Olhava de um para
o outro. “Nossa, é uma princesinha. Uma moça. Olha como é comportada”. Eu e
Cicília apenas nos olhávamos. Desconfiados.
Tia Ludmila fez algumas perguntas... se era comportada
(MUITO!), se falava (pouco), se o irmão tinha ciúmes, como era a relação dos
dois, se era muito agitada (Nada!). E Laís lá: um anjo de candura. Mal se
mexia. Continuava encostada na mesa. O único movimento foi para abrir a bolsa
de mão dela e tirar a mamadeira. “Nossa, de bolsa? Que coisa mais linda. É uma
princesa mesmo”.
Chegou a ser pega no braço pela tia e sempre lá: quieta.
Comportada.
Depois de alguns minutos de conversa, recebemos o papel com
a aprovação. Antes que algo acontecesse, corri para a secretaria e peguei a
lista de documentos a entregar e fomos embora. Com a certeza de que o colégio
receberia dali a pouco mais de um mês, uma criaturinha como essa do vídeo aí
embaixo: