quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A entrevista de Laís

A situação era tensa. Um ano antes estávamos na mesma sala com Arthur. Era um bate-papo, uma entrevista, com a psicóloga do Lourdinas para nos conhecer e também o futuro aluno do colégio. Calmo que só ele, sabíamos que não haveria problema. Confesso que a expectativa não era a mesma desta vez. Afinal, era Laís quem estava sendo avaliada.

Antes de irmos para a tal reunião, conversava com Cicília, que temia que a menina não fosse aprovada. Sugeri um calmante para ela chegar dormindo e só descobrirem a “peça” quando chegasse o primeiro dia de aula. O único risco era Tia Ludmila ser demitida por colocar o Taz dentro do colégio. Pouco confiantes, fomos.

Entramos na sala, eu com ela no braço, sentei. Coloquei-a do meu lado, em outra cadeira. Laís sentou como uma lady. Séria, apoiou os braços na mesa e esperou. Olhava de um para o outro. “Nossa, é uma princesinha. Uma moça. Olha como é comportada”. Eu e Cicília apenas nos olhávamos. Desconfiados.

Tia Ludmila fez algumas perguntas... se era comportada (MUITO!), se falava (pouco), se o irmão tinha ciúmes, como era a relação dos dois, se era muito agitada (Nada!). E Laís lá: um anjo de candura. Mal se mexia. Continuava encostada na mesa. O único movimento foi para abrir a bolsa de mão dela e tirar a mamadeira. “Nossa, de bolsa? Que coisa mais linda. É uma princesa mesmo”.

Chegou a ser pega no braço pela tia e sempre lá: quieta. Comportada.

Depois de alguns minutos de conversa, recebemos o papel com a aprovação. Antes que algo acontecesse, corri para a secretaria e peguei a lista de documentos a entregar e fomos embora. Com a certeza de que o colégio receberia dali a pouco mais de um mês, uma criaturinha como essa do vídeo aí embaixo:

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O primeiro dia de aula

Certos momentos marcam a vida dos pais por serem, digamos, emblemáticos. São dias que ficam gravados na memória para o resto da vida. O primeiro dia de aula é um deles. Antes, porém, de deixá-lo na escola, tive que passar por uma maratona. E tudo começou com a escolha do colégio.

Um dos itens que você analisa de cara, claro, é a mensalidade. Não é mole pagar um colégio para uma criança de 3 anos que há algum tempo atrás valia uma faculdade. Passado esse impacto, percebe-se que o colégio em que você estudou tem grande influência. Por exemplo: se morasse em Recife, colocaria no Visão. Mas em João Pessoa, ouvi Cicília. E fomos no Lourdinas.

Colégio tradicional da cidade, de freira, que no passado não tão distante só aceitava meninas. Achamos interessante a parte religiosa e cidadã do local. Passamos por entrevista, compra de material escolar e finalmente chegou o dia de levar Arthur para o primeiro dia de aula.

Em uma reunião realizada uma semana antes do início das aulas, as tias fizeram um baita medo sobre o período de adaptação. “Deixa ele trazer a mochila sozinho”; “não fica muito tempo”; “chorar é normal”; “com o tempo se acostuma”; “se quiser pode ficar na primeira semana”. Eu só imaginava Arthur chorando desesperadamente aos berros: “NÃO ME DEIXA!!”.

Saí da tv, almocei, preparei a câmera e começamos. Era preciso registrar. “Pega a bolsa”; “vai saindo”; “dá tchau”. Depois da sessão de fotos, fomos para o colégio.

Entendi o que as tias disseram. Tem criança que realmente parece estar indo pra forca. E olhe que ela nem imagina o que está reservado para o futuro (aulas de Química e Matemática, por exemplo, que causaram traumas na minha vida). No meio do chororô, da correria e dos gritos, encontramos Tia Ju, a primeira professora de Arthur.

Meio receoso, ele não quis largar a mão. Olhava tudo apreensivo. Sentia que ia ficar sozinho. Em um lugar estranho. Com pessoas estranhas. Pela primeira vez na vida. Com o coração apertando cada vez mais, brincamos com ele, mas sem esquecer que o momento se aproximava. “Qual seria a reação dele? Vai ficar bem?”. E a tia chamou pra sala.

Aos poucos, os amiguinhos sentavam nas cadeiras. Outros pais na mesma situação que nós. Decidimos que era hora de sair. Ele ainda meio ressabiado. Como faríamos?? Em meio a nossas dúvidas, Tia Ju apareceu com um pote de massa de modelar. Bastou.


Arthur sentou, pegou a massa, começou a brincar e esqueceu que estávamos ali. “Tchau, Arthur”. A resposta foi um breve aceno com a mão para não tirar a atenção da massa de modelar. Trocados por uma massinha, fomos embora. Ainda assim, felizes, por cumprir mais uma etapa da vida dele.