sexta-feira, 14 de junho de 2013

A testa de Laís

Pai - Homem que gerou um ou mais filhos em relação a estes; genitor; homem colocado no primeiro grau da linha ascendente de parentesco. Animal macho que gerou outro”.

Isso é o que está no Dicionário Michaelis, mas eu posso acrescentar uma coisinha: “aquele ser que na hora que a filha lasca a testa em uma quina (com direito a sangue e tudo mais) mantém a calma, passa gelo e leva para o médico”.

...

Havíamos decidido tentar outra pediatra, já que Dra Liane nunca batia com nossos horários. Era o primeiro dia que levaríamos para Dra Ana Flávia. Cheguei da TV na carreira, coloquei meu almoço e... POTOFE!

Laís começou a chorar. Até aí normal. Sabe como é criança quando começa a andar. D. Maria José entra na cozinha com ela nos braços. O local da pancada estava branco. “eita que essa foi de lascar”.

Botei no braço e junto com Nena começamos a botar gelo. Cicília estava arrumando Arthur. E tome choro. E tome gelo. Saí da cozinha e fomos para a garagem, onde estava mais ventilado. E mais choro. E mais gelo. De repente Cicília chega.

“Ai meu Deus, tem que levar essa menina no médico”. E começou a se tremer para o outro lado. E eu com ela no braço. Não sei de onde vinha tanta calma. Colocamos os dois no carro e fomos para a pediatra.

Depois de alguns metros, já dentro do carro, comecei a sentir um nervosismo crescendo. “Agora não”. E segui. Chegamos no consultório e falamos com a atendente. A essa altura Laís já estava sem chorar. A moça estava no telefone. Cinco minutos depois: “Ana Flávia atende aqui ao lado”.

“Oh imbecil, porque não disse logo?”. “Eu estava no telefone”. “E NÃO PODIA DESLIGAR ESSA MERDA NÃO?”. E saí.

Na sala ao lado, entreguei os cartões da Unimed, preenchi um formulário (já que era a primeira vez com ela) e... Não dava mais.

Joguei a caneta na mesa, levantei e saí. Queria estar longe de Arthur e Cicília. E deixei os sentimentos saírem. Comecei a me tremer. Veio também uma vontade de chorar. Respirei fundo. Por cerca de 15 segundos deixei o desespero tomar conta de mim. A imagem da testa de Laís machucada crescia na minha mente.


Depois disso recuperei o autocontrole. Voltei para a sala. E fui acompanhar a consulta. Mas só fiquei calmo mesmo quando a médica disse que não era nada demais. Tinha sido “só” um susto.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A outra

Por mais que a gente tivesse preparado Arthur para o nascimento de Laís, eu sabia mais ou menos o que se passava na cabeça dele. Por ter vivido situação parecida (a diferença é que eu tinha 5 anos quando Andréa nasceu), tinha noção de que, naquela momento, ela era nada mais que a “Outra”.

E pensa bem: você é o centro das atenções, quando de repente, aparece uma pirralha, que não mede meio metro e todo mundo quer ver. Não é fácil digerir.

“Laís nasceu. Olha só o que ela trouxe pra você. Um presente”. Como se dentro do útero tivesse uma loja da Ri Happy.

E foi dentro do esperado. De início, a rejeição. A gente botava no colo, ele meio que afastava, fazia cara de contrariado e pedia para tirar. Botava para empurrar o carrinho, ele ia com a maior má vontade do mundo. Sempre com um olhar desconfiado.

Mas criança esquece logo das coisas. É uma vantagem que elas têm sobre os adultos. Não guardam rancor. E bastaram apenas uns dias para Arthur deixar para trás a ranzinza e tomar conta da irmãzinha.

Bastava perguntar: “quem é essa menina linda?”. “Minha imãzinha”. E com muito orgulho.