quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A cueca


Ter um filho também é saber descartar. Não ele, claro. Mas alguns objetos.

Estávamos de férias (tecnicamente, Cicília estava de licença maternidade). Passamos então alguns dias na casa de Tia Andréa em Jaboatão. Uma noite resolvemos jantar no Laça Burguer.

Fizemos os pedidos, cada um com seu prato. Laça Coração, Laça Chiken, Laça Cheese, Laça alguma coisa e bebidas. Fernando estava cabisbaixo, um pouco triste após ter negado o pedido de comer um Beirute (aquele sanduíche que alimenta 20 pessoas esfomeadas).

Arthur andava pela lanchonete, brincando, conversando e... “Esse menino ta quieto demais ali no canto. Deve estar fazendo alguma coisa”. Observei os sintomas: rosto tendendo ao roxo, veias à mostra, barriga levemente inclinada para a frente. Se ainda tinha alguma dúvida foi dissipada com a confissão: “Papai, cocô”.

Quando se percebe que seu filho fez algo desse tipo em um local público e ainda faz questão de falar, você entra em desespero. É preciso esconder o menino e resolver o problema antes que todos morram por inanição.

Corri para o banheiro com ele nos braços e tranquei a porta. Olhei para ele. Ele sorriu. “Vamos tirar a bermudinha?”. Ao tirar a bermuda percebi o tamanho do problema.

Estávamos em uma fase de tentar tirar a fralda, portanto, ele tinha apenas a cueca para segurar aquele negócio todo. E estava cheia. Muita cheia. Fiz cálculos mentais para tentar retirar a cueca sem sujar todo o banheiro. Já disse aqui antes que sou Jornalista. Claro que os cálculos deram errado.

Ao baixar a cueca veio tudo junto. O desespero foi aumentando. Aquilo escorria pela perna e eu sem saber o que fazer. Retirei a cueca e por um instante fiquei em dúvida: “O que faço agora? Lavo onde?”. E a solução veio rápida e prática.

Com o pé, apertei o pedal da lixeira e joguei a cueca dentro. Para nunca mais vê-la na minha vida. Peguei papel toalha suficiente para criar uma múmia e limpei Arthur. Recoloquei a bermuda (por mais incrível que pareça estava limpa) e saímos.

Neste dia aprendi que não devemos comprar cuecas caras para nossos filhos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Nascimento de Laís - Final


A única pergunta que vinha na minha cabeça era: “porque dessa vez me colocaram pra ver tudo? E se eu desmaiar?”. Lembro que com Arthur, eu fiquei exatamente atrás do pano, sem ver nada. Tudo bem que depois fiquei pulando para tentar ver alguma coisa. Mas desta vez eu estava em diagonal. Vi tudo que tinha para ver.

E ouvi a conversa também. “Soubesse de Fulana?” “Mulher, soube. Não acreditei”. E eu lá. Na expectativa. Esperei. E depois do bate-papo sobre as vidas de fulana, beltrana e quem lá fosse, saiu.

Uma coisinha minúscula, branquinha e que chorava.

Mesmo sendo a segunda vez que sentia isso, não dá para descrever. É um amor que não se mede. É Deus sentando do seu lado e dizendo: “Estou lhe entregando aos seus cuidados porque confio em você. Cuide bem!”.

São milhares de pensamentos ao mesmo tempo. Um turbilhão de idéias. Não dá para pensar direito em nada. Percebi que Kalessa estava na sala (como havia sido há dois anos). Nem lembro de onde saiu. De forma automática, comecei a tirar fotos.

E fiquei naquela coisa meio sem saber o que fazer. De repente, a médica olha pra mim e me oferece minha filha. Peguei-a com todo o cuidado do mundo. Aconcheguei em meus braços e olhei. Algo aconteceu com o mundo naquele momento.

Era como se tudo tivesse parado. Nada mais tinha importância. O resto do mundo parecia sem importância quando comparados com aquele ser pequeno e indefeso. Demorou alguns segundos (que pareceram horas) para que eu voltasse a pensar em algo.

E quando isso aconteceu, cheguei próximo dos ouvidos dela e cantarolei como tinha feito com Arthur: “Cazá, Cazá, Cazá, Cazá, Cazá, a Turma é mesmo boa, é mesmo da Fuzarca, Sport, Sport, Sport”.